Boletim Informativo nº 142 | Dez. 2010

Porque razão são os "pobres" quem mais desperdiça?

Escolhi este título provocatório pois que, para além de um ditado popular, e como com alguma frequência acontece com estes, penso que se adequa à situação portuguesa.

Portugal é um país com recursos hídricos de elevado significado, com valores médios anuais de precipitação da ordem dos 1 000 mm, com uma orografia bastante favorável e “coincidente” com as zonas de precipitações mais elevadas como se pode analisar da figura 1.


Figura 1: Precipitação média anual em Portugal.

Há largas dezenas de anos que são conhecidos, inventariados e mesmo desenvolvidos estudos prévios de um vasto conjunto de aproveitamentos hidráulicos de fins múltiplos em Portugal. Mérito seja reconhecido a António Quintela, Alvares Ribeiro e à EDP, entre outros.

Temos engenharia, industria e experiência de fazer empreendimentos de elevada complexidade e arrojo pois já os fizemos cá e também fora do país.

Somos um país que se pode orgulhar de dispor de um Laboratório Nacional de Engenharia Civil, de Universidades prestigiadas, gabinetes de engenharia/consultadoria e empresas de construção conceituados nesta área do conhecimento e da realização.

O país é extremamente deficiente em termos de bens energéticos ainda que, em termos de energia eléctrica, se possa caracterizar por, em 2004, dispor de um sistema electroprodutor em que, em média 33% da energia era de origem hídrica e de outras renováveis.

Em termos globais Portugal dispõe de mais de metade dos Recursos Hídricos por utilizar.

As potencialidades nacionais em energias renováveis de origem hídrica
 
Potencialidades
  Exploradas Por explorar Totais
  MW MW MW
pAHE e micro hídrica  340 760 1100
gAHE 4450 2850 7300

 

A posição do país, no que se refere à utilização dos recursos hídricos, comparativamente a outros países da Europa é a que se pode ver na figura 2.


Figura 2: Potencial hídrico disponível e aproveitado em alguns países europeus.

 

 

 

 

O investimento em produção de hidroelectricidade decaiu de forma acentuada até 1998 como se pode ver do gráfico.

Com o surgimento do “Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH)”, em Novembro de 2007,que teve como objectivo identificar e definir prioridades para os investimentos a realizar em aproveitamentos hidroeléctricos no horizonte 2007-2020, algumas das esperanças de quem tem dedicado alguma atenção a este problema tiveram um certo alento, ainda que se considere bastante infeliz o termo Barragens pois seria mais correcto dizer Aproveitamentos de Fins Múltiplos.

No entanto, ainda que alguns passos tenham sido dados no sentido da sua concretização, “sente-se” já algum desencanto.

Mais recentemente, em Setembro deste ano, o Governo tomou a resolução de proceder à abertura de concursos de adjudicação de centrais mini-hídricas que permitirão atingir, já em 2011, o potencial de 250 MW neste tipo de aproveitamentos.

A titulo de exemplo, e a valores médios, a execução destes planos podiam dar origem a investimentos na ordem dos 3.5 a 4 mil milhões de euros, criando cerca de 11 000 postos de trabalho, reduzindo a importação de combustíveis fosseis na ordem dos 700 milhões de euros por ano e reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa no valor de 150 milhões de euros por ano (valores apresentados pelo Engº Eira Leitão numa Conferencia proferida no DEC da FCTUC e “convalidados” pelo autor).

Talvez depois desta breve reflexão se possa entender o título escolhido.

No entanto e atendendo às resoluções destes últimos anos e que estamos no início de um Novo Ano há que ter esperança e, quando ligar as luzes da arvore de Natal ou do presépio e ainda quando entrar no Ano Novo, faça votos para que estes Planos passem do papel à realidade.
Um bom ano para todos.

Alfeu Sá Marques
Presidente da Comissão Especializada de Hidroenergia

 

 

 

 


 

 

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