Boletim Informativo 158 | Junho 2017

O que é que as alterações climáticas fizeram a Portugal?

Enquanto se discute sobre quem fica fora e dentro do Acordo de Paris, o mundo aquece, o Ártico derrete e a Antártida fica um bocadinho mais verde. Não são projeções ou especulações, são constatações que estão em relatórios de cientistas que continuam a medir os efeitos das alterações climáticas no planeta Terra. E Portugal? Há muitas coisas que já mudaram à nossa volta.

Já reparou que há sobreiros e azinheiras a morrer no Alentejo? Que as ondas de calor se tornaram mais frequentes? Que a floresta de Portugal está a diminuir, consumida pelos incêndios? Que a chuva já não cai como antes? Que os Invernos estão mais curtos? Que os mosquitos da febre de dengue encontraram condições para espalhar um surto na ilha da Madeira? Que, devagarinho, acontece uma subida do nível do mar? São apenas alguns dos efeitos das mudanças climáticas em Portugal.

A lista de fenómenos, mais ou menos visíveis, registados em Portugal que resultam das alterações climática é longa. Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), destaca a diminuição da precipitação, acompanhada de uma mudança do seu regime.

“A diminuição traduz-se, se fizermos uma média por década a partir de 1960, em 40 milímetros por década no Sul de Portugal. Ou seja, em 56 anos, estamos a falar de mais 200 milímetros, o que é muito significativo”, especifica o físico, referindo-se a dados da Agência Europeia do Ambiente (EEA, na sigla em inglês). O problema, diz o especialista, não é exclusivo de Portugal e abarca toda a Península Ibérica onde, segundo os mesmos dados da EEA, a precipitação anual diminuiu até um máximo de 90 milímetros por década, desde 1960.
Infelizmente, este mau indicador parece manter a sua tendência. “Este ano é mais um exemplo disso. Estamos a ter uma precipitação reduzida, relativamente à média de há 60 ou 70 anos. Isto tem impactos muito significativos na agricultura e também no montado”, avisa. Por outro lado, nota, também se percebe que o padrão da chuva mudou e que, quando realmente chove, chove muito e durante pouco tempo. O que, entre outros efeitos, significa muitas vezes cidades inundadas por cheias.

 


 


Nas cidades sentem-se as cheias mas não a falta da chuva que, aliás, (quando cai) incomoda muita gente. “As pessoas que vivem na cidade não notam a diminuição da precipitação, abrem a torneira e têm água e de qualidade. A chuva é uma chatice”, reconhece Filipe Duarte Santos, que acrescenta que “é muito diferente quando se é um agricultor no interior do país”. É preciso enfrentar este problema e planear uma resposta, sem esquecer que a solução tem de ser discutida com os nossos vizinhos espanhóis com quem partilhamos recursos importantes para nos adaptarmos a estes desafios, recomenda o físico.

 “Por outro lado, temos as ondas de calor”, continua Filipe Duarte Santos. Apesar de considerar que Portugal se tem adaptado bem a este fenómeno, com um programa de alerta dirigido à população, chamado Ícaro e que é da responsabilidade da Direcção-Geral da Saúde, o físico lembra que as ondas de calor são hoje mais frequentes. E há mais: “Também temos a questão dos fogos florestais. Com temperaturas mais altas e menor precipitação, o risco de incêndio florestal aumenta. Portugal é o único país do Sul da Europa em que a área florestal está a diminuir, por causa dos incêndios”, assinala.
A privilegiada localização deste cantinho da Europa à beira-mar também tem desvantagens. “Há ainda a subida do nível do mar”, acrescenta Filipe Duarte Santos, que confirma que as projeções mais extremas apontam para uma subida média de um metro em 2100.

(fonte: Jornal Público)

 

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