Boletim Informativo nº 138 | Janeiro 2010

Trás-os-Montes: Já não há fontanelas para os agricultores matarem a sede

Há 50 anos jorravam da terra regatos de água e o clima era mais adequado aos ciclos da agricultura. Hoje, as nascentes naturais secaram e as alterações são evidentes para quem viveu toda a vida da terra, como os agricultores transmontanos.

«Antigamente, onde quer que fosse, a gente bebia água. Chamávamos-lhe as fontelas. Agora? Onde é que se vê disso?", pergunta José Mesquita, com 70 anos, a maior parte dedicados à lavoura.

«O tempo está diferente e de que maneira», corroboram António Fernandes e Manuel Barros, garantindo que «se não fossem as três poças de água, coitados de nós». É assim que chamam às três barragens para o regadio no Vale da Vilariça, no Nordeste Transmontano, onde os furos artesianos ajudaram a sugar os regatos de antigamente.

Mas as marcas das alterações climáticas sentem-se para além da falta de água. «Não chove nas mesmas épocas, o calor também já não tem aquela incidência nas mesmas épocas», observam.
José Brás recorda que «Saia do Verão, ia arrefecendo gradualmente e quando chegava pelos tantos de Dezembro começava o frio mais acentuado, depois vinha o Janeiro geadeiro, em Fevereiro já começava quase a cheirar a Primavera». Agora não é assim: «De repente é Verão com as temperaturas elevadas, chega o mês de Novembro é logo frio».

O reflexo é visível nos estragos deixados pelas geadas dos últimos anos, que deixaram manchas de oliveiras despidas por podas violentas para cortar os ramos queimados pelo gelo.
Com as mudanças ressentem-se a agricultura mas também a caça, que escasseia cada vez mais, por falta de bebedouros e de comida, muito devido ao abandono do uso dos solos, nomeadamente dos cereais, que deixaram de ser rentáveis para os agricultores.

Álvaro Barreira, que integrou a comissão que há 30 anos elaborou a primeira lei da caça, tem acompanhado o percurso do sector a partir de Bragança. Defende que é necessário criar massas hídricas para combater estas alterações, o que poderia passar por recuperar antigas represas, considera que compete aos organismos oficiais tomar a iniciativa, mas estes «têm falhado por falta de acção e por estarem de costas voltadas uns para os outros».

Fonte: http://www.confagri.pt/NR/exeres/F3090ED3-78DD-420C-9989-2AA604265B40.htm

 

 

 

 

 

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