‘Agricultura e Ambiente: Que rumo e que estratégia?’

Título:

‘Agricultura e Ambiente: Que rumo e que estratégia?’

Resumo:

Tal como para os demais sectores produtivos, o ambiente tornou-se incontornável para o sector agrícola. A agricultura tem que saber encarar de frente e com sucesso as missões, deveres e emergências que lhe impõe uma sociedade cada vez mais empenhada em assegurar um ambiente melhor para os presentes e para os vindouros. Neste contexto, qual será a melhor estratégia ambiental para a agricultura? Uma estratégia de simples resistência à mudança, remando contra a maré ambiental na esperança de um regresso a velhos tempos, seria aberrante e inviável, e terá aliás bem poucos defensores. Mas há outra estratégia, essa sim com adeptos, que a meu ver está também condenada ao fracasso. É aquela que passa em larga medida por negar ou desvalorizar as consequências negativas da actividade agrícola para o ambiente, e mesmo em dizer que a agricultura só traz benefícios ambientais fracassará pela simples razão de não estar assente na verdade dos factos, a qual acabará sempre por vir ao de cima nesta sociedade fervilhando de informação. A realidade é que a agricultura, tendo um inegável e importantíssimo papel na gestão do território, da paisagem e do ambiente, tem também inegáveis implicações ambientais negativas. Uma boa estratégia para o sector agrícola não pode basear-se na negação destas implicações e na insistência em meias verdades. Antes deverá encarar de frente os problemas ambientais sérios a que a agricultura está ligada, adoptar uma atitude de pleno empenho na sua diminuição e eliminação, e buscar um duplo dividendo, ambiente e económico, nesse rumo para uma agricultura mais amiga do ambiente. A palavra-chave da estratégia que defendo é sustentabilidade. Uma agricultura sustentável será aquela em que as necessidades produtivas do presente são conseguidas sem comprometer as necessidades futuras, e em compatibilidade com melhor ambiente e melhor qualidade de vida, incluindo obviamente para os próprios agricultores. Será numa atitude de adesão e procura activa da agricultura sustentável que residirá a melhor estratégia ambiental para o sector. Como passar à prática? O regresso em força à agricultura tradicional não é certamente uma solução generalizável, já que, se a sustentabilidade ambiental estaria em princípio assegurada, a sustentabilidade económica e social não o estaria. Apesar disso, não deixa de haver razões para pensar que também estas vertentes o possam vir a estar, pelo menos em parte. É que, se por várias razões vão crescendo os obstáculos para a subsidiação agrícola associada à conservação da natureza e à protecção do ambiente. Parte da sustentabilidade económica e social da agricultura tradicional pode vir a passar por aqui. Outra parte pode passar pela agricultura dita biológica, a qual, não sendo propriamente tradicional, não deixa de recorrer a alguns dos mesmos princípios – e há outra tendência nítida da sociedade que é a exigência crescente de alimentos seguros e saudáveis, mesmo que mais caros. Quanto à agricultura intensiva, a sustentabilidade não estará decerto na velha fórmula ‘mais fertilizantes, mais pesticidas, mais irrigação, mais produção’. Na fórmula com futuro o agricultor deverá sempre assumir-se, mesmo quando produz mais intensivamente, como um bom gestor do uso do solo, dos seus nutrientes e matéria orgânica, da biodiversidade que alberga e sustenta. Para isso, deve desde logo adequar a produção a estes objectivos, para além de ao mercado, e deve diminuir, não aumentar, o uso de pesticidas e herbicidas. A protecção integrada de culturas é seguramente um rumo a ter em conta, pelo recurso a plantas mais resistentes, à rotação e diversificação de colheitas, ao controlo biológico de pragas, às boas práticas de mobilização do solo, com uso mínimo de químicos, enquanto que a biodiversidade

Autores:

Humberto Rosa

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