Estudo da viabilidade de remediação do estado trófico da Lagoa das Furnas (S. Miguel – Açores) por precipitação físico-química de fósforo: Ensaios preliminares

Título:

Estudo da viabilidade de remediação do estado trófico da Lagoa das Furnas (S. Miguel – Açores) por precipitação físico-química de fósforo: Ensaios preliminares

Resumo:

O enriquecimento em nutrientes, ou eutrofização, é um processo que conduz à alteração do estado de qualidade da água e da estrutura e função das comunidades existentes em ambientes aquáticos. O aumento do afluxo de fósforo para os meios aquáticos tem sido considerado como o principal responsável pela eutrofização dos mesmos, apesar de não dever ser menosprezada a influência do azoto no controlo do estado ecológico das águas interiores. A eutrofização de meios hídricos tornou-se uma situação prevalecente e preocupante em todo o Mundo, incluindo a maioria dos países europeus, e a agricultura tem sido considerada como dando origem à maior parte dos nutrientes que atingem as massas de água. A Lagoa das Furnas, que de acordo com estimativas realizadas poderá ter estado a receber, desde há duas ou três décadas, cargas de azoto e fósforo que, na melhor das hipóteses, são 5,7 vezes no caso do primeiro nutriente e 4,3 vezes no caso do segundo, superiores às cargas com perigo de eutrofização, apresenta já há algum tempo características de meio eutrofizado. Esta situação, diagnosticada pela primeira vez em 1988/89, tem vindo a ser acompanhada desde então. A inactivação do fósforo existente na massa de água, tornando-o indisponível para o fitoplâncton, é uma técnica de recuperação/melhoramento de lagos há muito utilizada. A precipitação físico-química daquele elemento, com recurso a sais de alumínio, ferro e cálcio, é uma das formas de o inactivar. No entanto, a aplicação desta tecnologia a meios aquáticos naturais, para além dos custos económicos que apresenta, pode ter impactos significativos se não forem utilizadas as quantidades adequadas de coagulantes. No caso particular da Lagoa das Furnas (S. Miguel – Açores), a baixa alcalinidade das suas águas e a turvação natural que apresentam são características que não devem ser descuradas quando se equaciona a possibilidade de aplicação daqueles tratamentos. Este trabalho tem por objectivo apresentar os resultados obtidos em estudos preliminares de coagulação-floculação com sais de alumínio, ferro e cálcio aplicados à água da Lagoa das Furnas. Para prossecução do objectivo definido foram efectuados ensaios de “Jar-Test” com diferentes tipos e doses de coagulantes, com e sem correcção de alcalinidade, de forma a determinar as doses óptimas e as condições adequadas (pH, alcalinidade) a utilizar em futuros trabalhos de remediação, se os mesmos vierem a ser equacionados. É também apresentado um estudo prévio relativo aos custos de aplicação do mesmo tratamento. Para os ensaios foram utilizados como coagulantes o sulfato de alumínio, o cloreto férrico, o carbonato de cálcio e o sulfato de alumínio conjuntamente com o aluminato de sódio. Os ensaios realizados com o sulfato de alumínio foram efectuados com e sem adição de carbonato de cálcio para correcção da alcalinidade. Os ensaios com aluminato de sódio e sulfato de alumínio foram realizados com diversas razões daqueles compostos. Nos ensaios realizados com o sulfato de alumínio obtiveram-se melhores resultados para a dose de 5,00 mgAl.L-1, quando não se efectuou correcção de alcalinidade, e 3,75 mgAl.L-1 quando se adicionou carbonato de cálcio em simultâneo. A dose óptima obtida para o cloreto férrico foi de 8,61 mgFe.L-1. O uso em simultâneo de sulfato de alumínio e aluminato de sódio seria mais aconselhado que a aplicação do primeiro composto isoladamente, porque se traduziria num menor consumo de alcalinidade da água e consequentemente numa menor diminuição do pH. A razão 1,0 de sulfato de alumínio para 0,5 de aluminato de sódio seria a mais adequada, correspondendo à adição de 12,13 mgAl.L-1. De um modo geral, obtiveram-se melhores resultados nos ensaios de coagulação-floculação realizados com sais de alumínio e de ferro do que nos ensaios realizados unicamente com a adição de carbonato de cálcio. Todavia, a adição de carbonato de cálcio juntamente com o sulfato de alumínio permitiu uma precipitação mais eficaz dos compostos de fósforo e a utilização de uma menor dose de alumínio. Relativamente aos custos de implementação do tratamento com os diversos coagulantes estudados, o uso de sulfato de alumínio com adição conjunta de carbonato de cálcio para correcção de alcalinidade seria o mais vantajoso, apesar de ainda apresentar custos elevados.

Autores:

Dina Maria D. Medeiros Pacheco, Maria da Conceição Raimundo Santos, José Virgílio de Matos Figueira Cruz, Marília Rasões, Fernando José Pires Santana

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