Etnoconhecimento ecológico dos caçadores submarinos de Ilhéus, Bahia, como subsídio à preservação do mero (Epinephelus itajara Lichtenstein, 1822)

Título:

Etnoconhecimento ecológico dos caçadores submarinos de Ilhéus, Bahia, como subsídio à preservação do mero (Epinephelus itajara Lichtenstein, 1822)

Resumo:

O Epinephelus itajara (mero-canapu) é uma das espécies de peixes mais ameaçadas do Atlântico tropical, estando incluída na Lista Brasileira de Espécies Marinhas Ameaçadas. Há relatos de locais de agregação reprodutiva da espécie na costa adjacente à cidade de Ilhéus (litoral sul da Bahia), onde inúmeras capturas foram registradas. Para reverter tal situação o poder público municipal criou uma Área Marinha Protegida (AMP), destinada à preservação desses locais de agregação. Com a finalidade de apoiar as decisões relativas à delimitação e zoneamento da AMP, efetuou-se um resgate do Conhecimento Ecológico Local (CEL) referente ao mero. Informações qualitativas foram levantadas por entrevistas projetivas e semi-estruturadas aplicadas a um grupo de doze ex-caçadores submarinos que capturavam meros até o final da década de 90. Durante as entrevistas abordaram-se temas como pesca, comercialização, ecologia, ciclo de vida, locais de captura, habitats de criação e reprodução, além de indícios sobre quantidades capturadas e alterações nos habitats marinhos capazes de comprometer a presença da espécie. Elaborou-se uma matriz de cognição comparada a partir das entrevistas semi-estruturadas para confrontar relatos dos caçadores submarinos com a literatura científica. Sua leitura demonstra consistência no CEL acumulado pelo grupo de ex-caçadores submarinos. Os mapas mentais obtidos com as entrevistas projetivas foram introduzidos num Sistema de Informações Geográficas (SIG) e ajustados a uma base cartográfica. Isso possibilitou delimitar áreas de criação e reprodução da espécie em função da freqüência de indicações, bem como mapear locais onde aconteciam as capturas. Segundo a percepção dos entrevistados, houve um declínio da população do E. itajara nos últimos 30 anos. A caça submarina foi consensualmente apontada como a principal causa. Essa hipótese é corroborada pelos mapas mentais, que ilustram a coincidência entre os locais de captura e as áreas indicadas como sendo de reprodução. Alterações sofridas pelos habitats marinhos nas últimas décadas, como o assoreamento nas proximidades da AMP, além da contaminação e aterro de mangues, foram apontadas como causas que contribuíram para tal declínio. As informações obtidas com o resgate do CEL sobre a distribuição espacial do E. itajara, além de indícios sobre a redução de sua população em Ilhéus e suas causas, poderão orientar a delimitação e o zoneamento da AMP de modo a potencializar a preservação da espécie.

Autores:

Gil Marcelo Reuss-Strenzel, Mércia Fontes Assunção

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