Título:
Radioactividade nas águas de superfície
Resumo:
Os corpos de água superficiais contêm radioactividade de origem natural e radioactividade de origem antropogénica, incluindo-se nesta os radionuclidos das séries naturais com as concentrações aumentadas e os radionuclidos produzidos artificialmente. Em Portugal, os radionuclidos presentes nas águas superficiais em concentrações mais elevadas são geralmente os das séries naturais do urânio e do tório, designadamente os isótopos do urânio (238U, 235U, 234U), o rádio-226 (226Ra), o radão (222Rn), o chumbo-210 (210Pb) e o polónio-210 (210Po). O potássio-40 (40K), não pertencente a nenhuma das séries naturais, está também normalmente presente. Estes radionuclidos têm origem, sobretudo, na dissolução dos elementos da crusta terrestre, sendo as concentrações muito variáveis em função da litologia das bacias hidrográficas. As águas residuais de actividades de extracção e tratamento de minério, em particular do minério de urânio, em Portugal e em Espanha, podem contribuir para um aumento significativo das concentrações destes radionuclidos nos cursos de água ibéricos. A produção de energia eléctrica por via nuclear origina efluentes que contêm radionuclidos artificiais, como o césio (137Cs) e o trítio (3H) que podem alcançar cursos de água como o rio Tejo. A utilização de radionuclidos artificiais em actividades de diagnóstico e terapia na medicina nuclear está por vezes na origem de efluentes contaminados que transportam radionuclidos, como o 131I e 99mTc, detectados em corpos de água superficiais, em particular no estuário do Tejo. Embora através do consumo da água estas actividades não originem, de um modo geral, a exposição da população a doses de radiação acima dos limites de dose tolerados, a protecção dos recursos hídricos e a gestão estratégica dos cursos de água requer o controlo das fontes potenciais de contaminação e a monitorização periódica da radioactividade na água.
Autores:
Fernando P. Carvalho