Sustentabilidades e Insustentabilidades do Turismo Litorâneo

Título:

Sustentabilidades e Insustentabilidades do Turismo Litorâneo

Resumo:

O turismo é um dos fatores de aceleração do desenvolvimento, e de intensificação das relações sociais, típicas do capitalismo. Trata-se de atividade que necessita do uso de ambientes naturais e culturais, produzidos pelo trabalho, para transformá-lo em espaço de lazer. O turismo faz parte da dinâmica da mundialização do capital, que cria territorialidades, envolvendo, mercado, Estado e Sociedade Civil. É um serviço de recuperação do trabalho humano. No Ceará-Brasil, em meio à exportação do calçado, indústria têxtil, castanha de caju, couros, peles, camarão, lagosta, frutas tropicais, confecções, ceras vegetais e ferro, o turismo ocupa o quarto lugar como produto de exportação, emergindo como setor cada vez mais estratégico para a economia, fenômeno observado em todo o Nordeste brasileiro. O turismo é um setor afeito a mitologias, ora é considerado panacéia capaz de resolver problemas socioeconômicos dos países periféricos, ora é interpretado como indústria capaz de destituir comunidades de suas marcas identitárias e de sentimentos de pertença. Há, pois, na atividade turística, elementos contraditórios. De um lado, permite a concentração de riquezas e a desterritorialização cultural, de outro, contribui para a criação de oportunidades em regiões pobres e excluídas. Sabe-se que o turismo constitui atividade econômica que interfere nas culturas e no modo de produzir dos núcleos receptores, provocando mudanças e gerando grandes impactos que podem ser discutidos como questão de (in)sustentabilidade social, cultural e ambiental (indústria, agricultura ou pecuária). As atividades humanas impactam ambientes em diferentes graus. As mais invasivas geram maiores danos ambientais e culturais, além de centralizar maior volume de riqueza, causando danosos impactos sociais por produzir uma sociedade segregada, que se alimenta da exclusão, tornando-a insustentável. Esta (in)sustentabilidade é produzida, num primeiro recorte, de natureza econômica, pela contradição capitalista. Nos países periféricos, gera “ilhas de prosperidade” que entram em conflito com espaços marginais, fazendo emergir contradições sócio-espaciais, com acentuada exploração do mercado de trabalho, grande porcentagem de trabalhadores temporários e ocasionais; intensa presença de mulheres com contratos de meio período, especialmente em hotelaria e restaurantes; escasso número de mulheres em cargos de maior responsabilidade; presença de trabalhadores estrangeiros, nos cargos mais elevados, nos países em desenvolvimento, em detrimento dos profissionais locais; pouca qualificação dos prestadores de serviços na hotelaria e em alimentos e bebidas; menores níveis de salários em relação a outros setores; maior exploração do trabalhador na jornada de trabalho; poucos trabalhadores sindicalizados e com algumas atividades com curto ciclo de vida. Em segundo recorte, de natureza cultural, pela ausência de interlocução entre as políticas públicas que produzem efeitos danosos nas populações nativas, contribuindo para a (in)sustentabilidade de grandes projetos turísticos, os quais muitas vezes nascem fadados ao fracasso. Este artigo apresenta reflexões sobre contradições e desafios relativos à sustentabilidade do turismo, em face dos significados tradicionais de desenvolvimento adotados pelas políticas governamentais e sua desconexão com outras políticas, que podem contribuir para a construção do turismo solidário, voltado para o fomento da diversidade cultural e qualidade de vida das populações litorâneas.

Autores:

Luzia Neide Menezes T. Coriolano, C. S. Leitão, F. P. Vasconcelos

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