Menu:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Volume 43, Nº 2 - dezembro 2022

 

Download 790KB, PDF)

 

 

  • Abstract / Resumo
  • References / Bibliografia
  • Citations / Citações

Revista Recursos Hídricos

DOI:10.5894/rh43n2-cti2
Este artigo é parte integrante da Revista Recursos Hídricos, Vol. 43, Nº 2, 25-44, dezembro de 2022.

Opções de gestão pública dos recursos água e solo na Agricultura Portuguesa

Soil and water management options in portuguese irrigated agriculture

Ricardo Serralheiro1 *, Mário de Carvalho1, Teresa Pinto Correia1, António Chambel2


* Autor correspondente: [email protected]
1 Professor da Universidade de Évora, Investigador do Instituto Mediterrâneo para Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento, MED.
2 Professor da Universidade de Évora, Investigador do Instituto de Ciências da Terra, ICT


RESUMO

Os objetivos do desenvolvimento sustentável das Nações Unidas e também os da União Europeia, expressos estes no “Pacto Ecológico Europeu”, condicionam as atividades económicas aos desafios da sustentabilidade, tendo naturalmente à cabeça o combate às alterações climáticas, a descarbonização, a conservação e o uso eficiente dos recursos essenciais, o solo, a água e a energia. Nos países do Sul da Europa, como é o caso de Portugal, o regadio, sendo uma forma de intensificação agrícola é atividade chave no uso dos referidos recursos essenciais. Na política agrícola portuguesa, desde os anos 30 do século XX até hoje, toda a atenção e relevo têm sido dados aos grandes regadios coletivos, de iniciativa estatal, servidos por grandes obras hidráulicas e hidroagrícolas, apoiadas em estudos e projetos e utilizando os melhores solos. Porém, apesar das enormes somas de investimentos públicos feitos nestes regadios coletivos, o interesse e a adesão dos agricultores foram escassos, pelo menos até ao recente sucesso do empreendimento de Alqueva. Ainda agora, apesar dos sucessos verificados nos regadios coletivos, faltam-lhes respostas a importantes questões, sobretudo as de natureza ambiental: da conservação do solo e da água, da paisagem e da biodiversidade. E não são menores as assimetrias de desenvolvimento que lhe estão associadas, ficando a riqueza criada localizada regionalmente e nas mãos de uma minoria de proprietários, individuais e empresas, “beneficiários” do grande regadio. O presente artigo mostra que um novo paradigma na gestão pública dos recursos hídricos e do solo, dando grande relevo e apoio a empreendimentos que se baseiem na agricultura de sequeiro complementada com pequenos regadios, dispersos por todo o território, será decisivo da sustentabilidade e coesão territorial, coordenando-se com os planos de gestão florestal e outras atividades rurais, promovendo o desenvolvimento dos territórios de baixa densidade populacional. Os pequenos empreendimentos hidroagrícolas adequam-se particularmente ao uso conservativo do solo, da água e da energia, quer quando se inserem em empresas de maior dimensão, como é mais frequente no Alentejo, quer praticando uma agricultura de dimensão familiar, mais facilmente orientada para a policultura. Os pequenos regadios, compartimentando a paisagem, promovem simultaneamente a biodiversidade, a qualidade e a segurança alimentares, a presença humana no território, a prevenção dos incêndios florestais e dos efeitos das secas, a retenção de carbono no solo, etc. A agricultura de conservação do solo e da água pratica tecnologias inovadoras, que aumentam ou pelo menos mantêm os teores de matéria orgânica dos solos, os quais aumentam a porosidade e a drenagem, a fertilidade e a capacidade de retenção de água utilizável. Estas formas de agricultura têm sustentabilidade económica e ambiental, mais que quaisquer outros sistemas e paradigmas de gestão agrícola. Os agricultores hão de ter um conhecimento profissional cada vez mais sofisticado e exigente, para o que precisam de ser assistidos tecnicamente no projeto e implementação destas atividades agrícolas inovadoras, competindo ao Estado organizar os serviços de extensão necessários.

Palavras-chave: Gestão da Rega, Solo e Água, Agricultura de Regadio.

ABSTRACT

The objectives of sustainable development, presented by both the United Nations and the European Union – these as described in the “European Green Deal” – imply that the economic activities agree with the challenges of sustainability, naturally beginning with the fight against climatic change, looking for carbon reduction in the atmosphere, and the efficient use of soil, water, and energy. In South Europe countries, as Portugal, irrigation is a key issue for the management of the referred to resources, a conservative management being essential for development, while some management mistakes may contribute for unsustainability of the production system. All attention and relief have traditionally been given by Portuguese policy to development of large irrigation districts, using important hydraulic structures and equipment, financed by public funds, well supported by studies and projects, using selected soils and technology. The present article owes to demonstrate that another policy in public management of soil and water resources may decisively contribute for rural and national development, if small irrigation systems are stimulated and supported, no matter the farm size, combining irrigation with rainfed farming. This type of combined agriculture makes a polyculture and biodiverse use of soil and water, completing farming with forest systems management, conserving a diverse landscape, contributing for food quality and security at a nation level. This type of farming is the true support to the territory’s coherence and development, if applied not only on selected sites but with a broad distribution within all the territory. Combined farming, as proposed, makes a conservative agriculture, based on innovative agricultural technology, which increases soil organic matter, therefore ameliorating soil porosity and drainage, and soil water holding capacity, contributing for carbon sequestration. Such a type of environment friendly agriculture is sustainable, both from the environmental and the economic points of view. However, this type of technologically based agriculture requires the farmers to hold a professional, permanently updated knowledge. Therefore, for being conveniently succeeded, the farmers need the technical assistance from Government engineers and agronomists. For that purpose, the Government has to organize some kind of a new national agricultural extension service.

Keywords: Irrigation Management, Soil and Water, Irrigated Agriculture.

 

Angelstam P., Munoz-Rojas J. and Pinto-Correia T., 2019. Landscape concepts and approaches foster learning about ecosystem services. Landscape Ecology. doi:10.1007/10980-019-00866 AgroGes; FENAREG. 2019. “Contributo para uma Estratégia Nacional para o Regadio 2050”. Apresentação na Feira Nacional de Agricultura 14 Junho 2019. Versão disponibilizada: pdf. www.fenareg.pt

Almeida, C.; Mendonça, J.; Jesus, M.R.; Gomes, A. 2000. Sistemas Aquíferos de Portugal Continental. Instituto da Água – Centro de Geologia da Universidade de Lisboa, 3 vols. , 671 pp Avillez, Francisco. 2021. “Que Regiões Agrícolas Irão Ganhar ou Perder Rendimentos com a Reforma da PAC pós-2020 ?” AGRO-GES.

Azevedo, Á.L.; Cary, F. Caldeira. 1989. Problemas e potencialidades da agricultura portuguesa, com ênfase especial para o Alentejo. In “Cooperação luso-alemã entre Universidades no domínio da investigação agrária aplicada – Resultados de projectos de investigação agrária”. Vila Real, pp 135-161.

Baker, Susan; A. Mehmood. 2014. “Local Environment : The International Journal of Justice and Sustainability Social Innovation and the Governance of Sustainable Places.” Local Environment: The International Journal of Justice and Sustainability 1(December 2014):37–41.

Bina, Olivia; Marta, Varanda; Daniel J. Lang; Henrik Von Wehrden; Maria Helena; Beatrice ;John; Fabienne Gralla; Doris Alexander; Dorit Raines; Allen White; Roderick John. 2018. “Interdisciplinary and Transdisciplinary Research : Finding the Common Ground of Multi-Faceted Concepts.” Sustainability Science.

Cardoso, José V.J. de Carvalho. 1965. Os solos de Portugal. I- A sul do rio Tejo. Lisboa, Secretaria de Estado da Agricultura, Direção Geral dos Serviços Agrícolas. VII+311 pp.

Carvalho, M.; Serralheiro, R. 2021. A sustentabilidade dos sistemas de Agricultura no Alentejo. Os desafios económicos e ambientais. Revista Naturae Digital, Museu Virtual da Biodiversidade, Universidade de Évora. https://naturaemuseubiodiv.wordpress.com/2021/07/08

Carvalho. M.; Goss, M.J.; Teixeira, D. 2015. Manganese toxicity in Portuguese Cambisols derived from granite: causes, limitations of soil analysis and possible solutions. Revista de Ciências Agrárias, 38: 518-527.

Chambel, A.; Duque, J.;Nascimento, J. 2007. Regional Study of Hard Rock Aquifers in Alentejo, South Portugal: Methodology and Results. IAH-SP Series, Jirí Krásný & John M. Sharp Eds, Taylor & Francis, 73-93 (ISBN 978-0-415-41442-5).

Corbera E., Roth D. e Work C., 2019. Climate change policies,natural resources and conflict: implications for development, Climate Policy, 19:sup1, S1-S7, DOI:10.1080/14693062.2019.1639299

Dias F. e Correia C., 2020. O uso da água em Portugal. Olhar, Compreender e Actuar com os protagonistas chave. Um estudo do Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável. .

Dupraz, Pierre; Hervé Guyomard. 2019. “Environment and Climate in the Common Agricultural Policy.” EuroChoices 18(1):18–25.

EDIA. 2021. Regadio 2030. Levantamento do Potencial de Desenvolvimento do Regadio de Iniciativa Pública no Horizonte de uma Década. EDIA, Empresa de Desenvolvimento de Infraestruturas de Alqueva. Documento posto a discussão pública em dezembro de 2021.

EEA, 2019. Climate change adaptation in the agriculture sector in Europe. European Environmental Agency, Report 04/2019. Copenhagen

ERHSA. 2001. Projeto “Estudo dos Recursos Hídricos Subterrâneos do Alentejo”. Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Alentejo, Évora.

European Commission, 2020. “Just Transition Mechanism.” European Commission. Retrieved (https://ec.europa.eu/info/strategy/priorities-2019-2024/european-green-deal/actions-being-taken-eu/just-transition-)

European Commission, 2021. A long-term Vision for the EU’s Rural Areas - Towards stronger, connected, resilient and prosperous rural areas by 2040. COM (2021) 345 Final. Brussels EU SCAR AKIS, 2019. Preparing for Future AKIS in Europe. Standing Committee on Agricultural Research (SCAR), 4th Report of the Strategic Working Group on Agricultural Knowledge and Innovation Systems (AKIS). European Commission, Brussels FENAREG. 2019. “Contributo para uma Estratégia Nacional para o Regadio. Documento Síntese”. 44pp. www.fenareg.pt

Foster, S.; Tyson G. (coord.). 2015. Food Security and Groundwater. Strategic Overview Series. International Association of Hydrogeologists. Management: Misstear B and Chiton J. 6p.

Horlings, L. G.; T. Marsden. 2011. “Towards de Real Green Revolution ? Exploring the Conceptual Dimensions of a New Ecological Modernization of Agriculture That Could ‘Feed the World.’” Global Environmental Change 21(2):441–52.

IEEA 2013. Inquérito às estruturas das explorações agrícolas 2013, Edição 2014, Instituto Nacional de Estatísticas

INE 1991. Recenseamento Geral da Agricultura, 1989 (RA89). Lisboa, Instituto Nacional de Estatística.

INE 2001. Recenseamento Geral da Agricultura, 1999 (RGA99). Lisboa, Instituto Nacional de Estatística.

INE 2011. Recenseamento Agrícola, 2009 (RA2009). Lisboa, Instituto Nacional de Estatística.

INE 2021. Recenseamento Agrícola, 2019 (RA2019). Lisboa, Instituto Nacional de Estatística.

Jaeger W., Amos A., Conklin D., Langpap C., Moore K., Planting A., 2019. Scope and limitations of drought management within complex human–natural systems. Nature Sustainability. doi.org/10.1038/s41893-019-0326-y

Malek Ž., Verburg P., Geijzendorffer I., Bondeau A., Carmer W., 2018. Global change effects on land management in the Mediterranean region. Global Enviornmental Change, 50: 238-254 Marques, C.; Carvalho. M. 2017. A agricultura e os sistemas de produção no Alentejo. Breve caracterização da sua evolução, situação atual e perspetivas. In “Posse e uso da terra, Caracterização da Agricultura Alentejana”, pp. 15-53. ISBN 978-972-8140-8-9.

Ministério da Agricultura. 2018. Programa Nacional de Regadios. Nota à Comunicação Social. Vila Franca de Xira, 3 de março de 2018. Anexo, mapa do Programa Nacional de Regadios.

Molden, David. 2020. “Scarcity of Water or Scarcity of Management?” International Journal of Water Resources Development 36(2–3):258–68.

Palomo-Campesino S., González J. e García-Llorente M., 2018. Exploring the Connections between Agroecological Practices and Ecosystem Services: A Systematic Literature Review. Sustainability, 10, 4339; doi:10.3390/su10124339

Paralta, E.; Frances, A.; Ribeiro, L. 2007. Modelação da recarga do aquífero livre miocénico da Bacia de Alvalade e implicações ao nível da contaminação agrícola (um caso de estudo da infra-estrutura 12 - bloco de rega de Canhestros/Ferreira do Alentejo). Seminário sobre Águas Subterrâneas, LNEC, 12p.

Pinto-Correia, T. 2020. Geographies of the South. The Study of the Rural Landscape in Portugal: Southern Unicity in Patterns and Changing Functions. In: González R.L.(Ed.), Geographies of Mediterranean Europe. Springer, ISBN 978-3-030-49463-6

Poux X. e Aubert P.-M., 2018. An agroecological Europe in 2050: multifunctional agriculture for healthy eating. Findings from the Ten Years For Agroecology (TYFA) modelling exercise. IDDRI, Paris

Primdahl, J., L. S.; Kristensen, F.; Arler, P.; Angelstam, A. A.; Christensen; M. Elbakidse. 2018. “Rural Landscape Governance and Expertise:On Landscape Agents and Democracy.” Pp. 153–64 in Defining Landscape Democracy. A Path to social justice, edited by S. Egoz, K. Jorgensen, and D. Ruggeri. Edward Elgar.

Rasmussen, L. V. et al. 2018. “Social-Ecological Outcomes of Agricultural Intensification.” Nature Sustainability 1:275–282.

Rockström, Johan et al. 2017. “Sustainable Intensification of Agriculture for Human Prosperity and Global Sustainability.” Ambio 46(1):4–17.

Rodríguez-Cohard, Juan Carlos; José Domingo Sánchez-Martínez; Vicente José Gallego-Simón. 2018. “Olive Crops and Rural Development: Capital, Knowledge and Tradition.” Regional Science Policy & Practice (November 2017):1–15. Retrieved http://doi.wiley.com/10.1111/rsp3.12115.

Serralheiro, R. P.; 1997. Perspetiva da Agricultura de Regadio em Portugal. Publicações “Universidade de Évora, série Ciências Agrárias”, nº 5. 76pp.

Serralheiro, R.; Carvalho, M. 2020. “Elementos para uma Estratégia de Gestão da Água na Agricultura”. Revista AGROTEC, nº 34, Março 2020, pp. 30-35.

Serralheiro, R.; Carvalho, M.; Pinto Correia, T. 2020. “Parecer Técnico, Sector Regadio, Plano Nacional de Investimentos, PNI2030”. Parecer sectorial (Regadio) integrado no Parecer global sobre o PNI2030 elaborado para o CSOP sob coordenação do Prof. Paulo Pinho, da FEUP.

Silveira, A., Ferrão, J., Muñoz-Rojas Morenés, J., Pinto-Correia, T., Guimarães, M.H., & L. Schmidt, 2018. “The sustainability of agricultural intensification in the early 21st century: insights from the olive oil production in Alentejo (Southern Portugal)”. In A. Delicado, N. Domingos and L. de Sousa (Eds.), Changing Societies: Legacies and Challenges. Vol. iii. The Diverse Worlds of Sustainability. Lisbon: Imprensa de Ciências Sociais, pp.247-275. https://doi.org/10.31447/ics9789726715054.10

Sinclair, F. 2019. Agroecological and Other Innovative Approaches for Sustainable Agriculture and Food Systems That Enhance Food Security and Nutrition. Report by the High Level Pannel on Food Security and Nutrition, Committee on World Food Security, Rome.

SNIRH, Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos. (s/ data). https://snirh.apambiente.pt

Veerman, C.; T. Pinto-Correia; C. Bastioli; B. Biro; J. Bouma; E. Cienciala; B. Emmett; E. Frison; A. Grand; L. Filchew, Z. Kriaučiūnienė; M. Pogrzeba; J. F. Soussana; C. Olmo; R. Wittkowski. 2020. Caring for Soil Is Caring for Life. Soil Helath and Food Mission, Horizon Europe, edited by E. C. D. G. for Research and Innovation. Brussels.