Boletim Informativo 149 | Fevereiro 2015

Reutilização de água residual tratada

22 janeiro 2015 | 14:30

Estiveram presentes cerca de 45 participantes entre as quais empresas municipais e privadas prestadoras de serviços e/ou de gestão de sistemas de abastecimento de água e saneamento (BE WATER, TECNILAB, Águas do Algarve, S. A., EMARP, SGU-VRSA, Ambiolhão, Infralobo, Infraquinta, municípios (Lagoa, Lagos e Monchique), administração regional (CDRA Algarve; APA, I.P./ARH Algarve), professores e alunos de estabelecimentos de ensino superior, representantes de empresas de espaços verdes, campos de golf e outros empreendimentos turísticos da região do Algarve (Geodesenho, Quinta do Lago, Onyria Palmares Beach & Golf Resort, Campo de Golf de São Lourenço), entre outros.

Na 1.ª Intervenção realizada por Joaquim Freire, das Águas do Algarve, S. A., este abordou o tema “Reutilização de Água Residual Tratada no Algarve – Uso Atual e Futuro”, já a 2.ª Intervenção, realizada pelo Eng.º Paulo Cruz, da APA, I.P./ARH Algarve, abordou o tema “Reutilização de Água Residual Tratada no Algarve”. A 3.ª Intervenção “Ambiente, Água Residual e Rega – Interações ”, realizada pelo Eng.º Manuel da Silva Costa (consultor privado) e por fim a 4.ª intervenção, realizada por Carlos Guerreiro da Universidade do Algarve, que abordou o tema “Sustentabilidade da reutilização de água residual no golfe”. Após as suas excelentes apresentações seguiu-se um longo período de debate tendo os trabalhos terminado às 18:00 com as seguintes principais conclusões:

  • A reutilização de água residual (AR) tratada proporciona a redução da pressão sobre os meios recetores, a criação/“consolidação” de zonas húmidas, recarga de aquíferos, redução das emissões de CO2, viabilização de atividades em zonas de escassez e valorização de projetos, enquanto boa prática.
  • A reutilização para fins ambientais poderá ter cada vez mais importância, devendo ser mais discutida;
  • Foram realizadas várias referências ao PEAASAR II (2007-2013), que previa 10% de utilização de AR tratada. No entanto, os valores de reutilização ficaram abaixo do limite definido. Os preços a cobrar pelo serviço de fornecimento de AR tratada, bem como a salvaguarda de eventuais falhas em termos de quantidade e qualidade são questões que preocupam os potenciais utilizadores da AR tratada.
  • Foram referidos pelos participantes alguns exemplos de reutilização a nível internacional, questionando o porquê de não se apostar mais na reutilização a nível nacional. Existem ainda preocupações com a qualidade da água rejeitada em meio hídrico, em parte como consequência da componente legislativa. Foram também pedidos mais esclarecimentos sobre o fenómeno da intrusão salina nas redes de drenagem, para entender melhor este problema (consequências várias para a entidade que opera o tratamento, mas como forma de inviabilização da reutilização AR tratada para alguns usos).
  • A baixa percentagem de reutilização de AR tratada estará em grande parte relacionada com os custos de investi¬mento necessários (tratamento adicional para afinamen¬to e adução), o afastamento dos locais de aplicação, principalmente no que respeita às áreas agrícolas, e ao facto de não existirem mecanismos de apoio (nacionais e comunitários) direcionados para a reutilização. Teria sido importante uma política do Estado mais dirigida à reutilização. Os custos de investimento associados são significativos e não têm surgido apoios financeiros. Acredita-se que noutros países a reutilização se encontra mais desenvolvida porque estiveram em causa questões económicas importantes associadas às questões hídricas (origem alternativa de água). O Estado tem apoiado sistemas públicos de regadio, mas não há uma estratégia de reutilização. Apesar do novo PENSAAR (2014-2020) destacar a promoção da utilização de águas residuais (pág. 43, objetivo operacional 3.5), este refere que a relevância e o peso da reutilização dependerão do seu custo e valor económico em comparação com as outras origens, ficando assim muito dependente dos mercados.


  • No que respeita a financiamentos futuros, poderão surgir eventuais oportunidades no presente quadro comunitário. Nesse sentido é importante a existência prévia de estudos e modelos já preparados e uma boa articulação entre as diversas entidades responsáveis, situação que à partida está assegurada no Algarve, onde já existe trabalho de base, podendo trazer eventuais financiamentos para a região.
  • O Eng.º Freire referiu que todas as 63 ETAR do sistema das Águas do Algarve, S. A., têm à partida potencial de reutilização, mas é preciso avaliar o tipo de reutilização a ter em causa. Esta deve-se ao fato que existe a necessidade de garantir os níveis de tratamento adequado, com especial destaque para os patogénicos (e contaminantes emergentes), de forma a assegurar os valores que têm vindo a ser exigidas pela Direção Regional de Saúde. Foi referido que o preço futuro do serviço depende de vários fatores, onde a distância origem/utilizador final será um dos mais importantes, visto que se prevê que a maioria dos custos seja referente à adução (no sentido de garantir as quantidades, nos estudo realizados foi considerado o ano de menor afluência de AR). No entanto, atualmente verifica-se uma redução na quantidade de água residual que chega para tratamento, sendo que esta variável não depende dos gestores do sistema. O aumento da capacidade de armazenamento dos campos de golfe pode ser uma forma de minimizar a irregularidade temporal do fornecimento.
  • No que respeita à reutilização da AR tratada para rega em campos de golfe foi referido que apenas 2% da água de rega utilizada nos campos de golfe corresponde a água residual tratada, sendo na sua maioria ainda de origem subterrânea (muito mais barata). Tendo em conta que alguns já são obrigados através da DIA a utilizar água reutilizada para rega, foi questionado e confirmado que esta estava a ser assegurada.
  • No que respeita aos aspetos sociais relacionados com a desconfiança sobre a qualidade da água, foi referido pela APA, I.P./ARH Algarve que, nas discussões públicas do Plano de Região Hidrográfica, se verificou algum interesse na aposta pela reutilização. No que respeita à aceitação por parte dos utilizadores dos campos de golfe, não foram registados pelos presentes problemas nesse sentido.

[Fonte: Núcleo Regional do Sul, http://www.aprh.pt/index.php/pt/
eventos-actividades/organizados-
pela-aprh/2015/reutilizacao-de-
agua-residual-tratada
]

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