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Volume 9, Issue 3 - November 2009

 

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Revista de Gestão Costeira Integrada
Volume 9, Número 3, Novembro 2009, Páginas 25-43

DOI: 10.5894/rgci161
* Submissão – 10 Março 2009; Avaliação – 12 Abril 2009; Recepção da versão revista – 25 Junho 2009; Disponibilização on-line - 26 Outubro 2009

No trilho do sal: Valorização da história da exploração das salinas no âmbito da gestão costeira da laguna de Aveiro *

On the track of salt: Adding value to the history of saltponds exploration in the coastal management scene of Aveiro lagoon

Maria Rosário Bastos 1


1 - Universidade Aberta - Delegação do Porto, Rua do Ameal, 752, 4200-055 Porto, Portugal.
e-mail: [email protected] ; CEPESE - Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade, Edifício Cepese, Rua do Campo Alegre, 1021/1055, 4169-004, Porto.


RESUMO
Este trabalho pretende ressaltar a importância do conhecimento das origens e desenvolvimento da exploração de sal na região de Aveiro, em ordem a uma gestão costeira que leve em devida conta a importância do conhecimento e preservação do património cultural da salicultura, evidenciando o seu interesse como mote turístico.
No que respeita à exploração do sal, devemos sublinhar que se trata de uma actividade muito antiga, cuja importância ao longo da História se afigura irrefutável. Na verdade, são poucos os produtos que, como o sal, permitem um armazenamento tão fácil e, paralelamente, se compadecem tão eficazmente com ciclos especulativos.
A zona do Baixo Vouga, onde se veio a formar a laguna de Aveiro, foi, por excelência, uma região profundamente ligada ao sal. Desde sempre, habituámo-nos à presença na paisagem aveirense de montes de sal acumulado junto às marinhas.
Condições climáticas, geomorfológicas, político-militares e demográficas congregaram-se, numa rara coincidência, para que o litoral pré-lagunar e, posteriormente, lagunar, proporcionasse uma intensiva exploração desse autêntico “ouro branco” que foi o sal, ao longo dos tempos históricos. No caso de Aveiro, foi durante a Idade Média e, mais concretamente, no período de autonomia e afirmação de Portugal como reino independente, que se iniciou a produção intensiva de sal. O início da exploração dos chamados salgados do Vouga, fazendo eco da documentação histórica escrita da altura, coincidiu com os estágios iniciais de formação da laguna, com a pacificação do território pela migração da frente de batalha da reconquista cristã para sul e com o afluxo demográfico e de fixação populacional em Aveiro e seu hinterland. Em simultâneo com os factores aludidos verificou-se um período de amenidade climática (Período Quente Medieval também designado por Pequeno Óptimo Climático), o que certamente facilitou a produção de sal na região.
Pesem embora alguns sobressaltos, o sal de Aveiro imperou nos mercados nacionais e estrangeiros até ao século XVII, tendo, entre outras, desempenhado papel de grande relevância na indústria tipicamente portuguesa de pesca e conservação do bacalhau (por salga e secagem ao Sol), para o desenvolvimento da qual foi determinante a coincidência da abundância de sal aqui existente, a disponibilidade de marinheiros e de pescadores experientes (para a pesca longínqua), um conjunto de infra-estruturas portuárias amplas e eficazes e a existência de um clima caracterizado por abundância de Sol (para a secagem do bacalhau). A partir do século XVII, a morfodinâmica lagunar, plasmada na colmatação da barra natural que se encontrava junto a Mira e, consequentemente, na perda da sua eficácia hidráulica, tornou a região insalubre e provocou o quase abandono da utilização do porto de Aveiro, ficando a exploração do sal quase impraticável.
De então para cá, a paisagem do sal de Aveiro tem estado em contínuo declínio, fazendo perigar a preservação da memória de uma actividade tão característica da região e culturalmente tão interessante como fora - e é - a do amanho das salinas.
Só compreendendo esta realidade na diacronia se poderá evitar a ruptura definitiva com um património cultural, ambiental e turístico de inegável interesse, como é o das salinas de Aveiro. Só respeitando os legados históricos e culturais se conseguirá uma gestão costeira integrada, eficaz e ambientalmente sustentável.

ABSTRACT
This essay aims at underlining the importance of the knowledge about the origins and development of salt commercial exploitation in the region of Aveiro, in order to sustain a coastal management which will duly consider the contribution of said knowledge and the preservation of the cultural heritage associated with saltworks, highlighting its interest as a touristic item.
The commercial exploitation of salt is a very ancient activity, of which there is plenty of historical evidence. Few products allow for long and easy storage as salt, and at the same time are so prone to speculative cycles.
The Lower Vouga area, where the Aveiro lagoon was eventually formed, is a region with deep ties with salt and saltworks. For a very long time we have been used to see in the landscape near Aveiro large piles of salt next to the salt ponds.
Conditions of different natures such as climatic, geo-morphological, politico-military and demographic have combined in a rare coincidence so that the pre-lagoon, and later the lagoon littoral, would develop an intensive exploitation of this “white gold” along the centuries. In this particular case of Aveiro, it dates back to the Middle Ages, and more precisely to the period in which Portugal acquired autonomy and affirmed itself as an independent kingdom. The beginning of this activity in the so called “salgados of the Vouga”, according to historical records, coincided with the first moments of the lagoon’s formation and the pacification of the region as the borders and the battle frontlines of the christian Reconquista were moving southwards, allowing for an afflux and fixation of new populations in Aveiro and its hinterland. Simultaneously, climatic amenity (Warm Medieval Period, also known as Little Climate Optimum) must have also facilitated the production of salt in this area.
In spite of some ups and downs, Aveiro’s salt was king in the Portuguese and even in international markets up to the 17th century. It did play a relevant role in another typically Portuguese industry: cod fishing, by providing the necessary ingredient for the salting that goes together with the sun drying process. The abundance of salt, the availability of seamen and experienced fishermen for the long distance fishing journeys, a good natural port equipped with ample and efficient infrastructures, and a climate with abundant sunshine to dry the catch. But after that time, the lagoon’s morphodynamics and the closing of the natural mouth located next to Mira with its consequent loss of hydraulic efficiency, turned the area into a inhospitable environment and almost brought to an halt the activity of the port in Aveiro. Salt business became close to impracticable.
Ever since the middle of the 17th c., the salt landscape in the region of Aveiro has been in permanent decline to the point of endangering the preservation of the memory of one activity once so typical of the area, and culturally so interesting as was – and still remains – the saltworks.
It is necessary to understand the diachronic nature of this reality in order to avoid the rupture with a interesting cultural, environment and tourism patrimony. Only respecting the history and culture heritage we can obtain a efficacious and environmentally sustainable management model for coastal areas.

 

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