Caracterização hidroquímica das águas subterrâneas da área das corneanas anfibólicas de Valverde, Év

Título:

Caracterização hidroquímica das águas subterrâneas da área das corneanas anfibólicas de Valverde, Év

Resumo:

O presente trabalho integra-se no projecto ‘Estudo dos Recursos Hídricos Subterrâneos do Alentejo (ERHSA)’ e teve por objectivo o estudo do sistema aquífero das corneanas anfibólicas de Valverde, localizado próximo de Évora. As corneanas anfibólicas de Valverde surgem no contacto dos quartzodioritos da região de Évora com as formações metamórficas gnáissicas da zona de Valverde – Boa Fé – S. Sebastião da Giesteira. Trata-se de uma faixa estreita de rochas designadas na bibliografia como corneanas e que é efectivamente constituída por um conjunto de rochas de carácter anfibólico, resultantes do contacto das rochas ígneas, a Este, com as rochas metamórficas, a Oeste, muito descontínuas e com alternâncias decimétricas a métricas ou decamétricas com as rochas envolventes ou com envolventes mais aplíticas ou pegmatíticas. Neste estudo são designadas por corneanas anfibólicas. A importância deste sistema, a nível local, tem sido demonstrada pela execução de várias sondagens na zona de Valverde, onde se confirmou que a zona das corneanas era francamente favorável relativamente às litogias envolventes. O próprio abastecimento à povoação de Valverde foi durante muito tempo garantido por um furo executado sobre esta formação. Neste estudo foi realizado um inventário de campo e foram efectuadas medições de campo dos parâmetros pH, condutividade, temperatura e potencial redox. Inventariaram-se no total 95 pontos de água, dos quais foram seleccionados 16 para recolha de água destinada a posterior anélise laboratorial. A análise dos resultados foi efectuada considerando as diferentes litologias onde foram recolhidas as águas. Os valores de condutividade eléctrica demonstram uma mineralização ligeiramente mais acentuada da água das corneanas anfibólicas relativamente aos restantes litótipos e um pH mais baixo, com a mediana próxima do valor neutro. Relativamente aos iões, as águas recolhidas na área das corneanas anfibólicas apresentam médias dos valores de cálcio e bicabornato superiores às águas dos outros litótipos, enquanto em relação aos valores de sódio, magnésio, potássio, cloreto e sulfato, apresentam sempre os valores mais baixos. Da totalidade das águas amostradas 37% apresentam um parâmetro acima do valor máximo admissível (VMA) do decreto de lei 74/90 de 17 de Março e 25% registam dois parâmetros acima do VMA. É o ião cloreto que mais vezes excede o VMA (69% das águas amostradas). Relativamente às águas recolhidas nas corneanas anfibólicas, os diagramas de Piper e Stiff permitem concluir que estas apresentam uma fácies bicabornatada com tendência calcosódica. As águas das rochas quartzodioríticas têm fundamentalmente uma composição bicabornatada-cloretada com tendência sódica, enquanto nas rochas gnáissicas apresentam uma composição bicabornatada sódico-magnesiana. A amostra recolhida nos calcários tem uma fácies bicabornatada calco-magnesiana. Quanto à qualidade da água para rega, o diagrama de Riverside permitiu concluir que, na totalidade das amostras, não se verifica qualquer problema quanto à alcalinização, variando o perigo de salinização entre o baixo e o alto. No entanto, a situação não é preocupante. Em relação aos estados de saturação das águas amostradas, verifica-se que a maior parte estão subsaturadas em relação à aragonite, calcite, dolomite, dolomite desordenada e dolomite ordenada. Apenas em relação à calcite e dolomite ordenada, cerca de metade das amostras apresentam sobressaturação, o que pode induzir a precipitação destes minerais quer na zona dos ralos das captações, como nos sistemas de bombeamento, tubagens, sistemas de rega, etc.

Autores:

António Chambel, Vasques Condeça, Jorge Duque

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