Monitorização ambiental de zonas costeiras e de transição

A monitorização da qualidade da água em zonas costeiras e de transição é fundamental uma vez que estas águas, quando degradadas, podem ter efeitos adversos no ecossistema, nos habitats naturais, nas atividades recreativas ou em utilizações especificas como a aquacultura, pesca ou atividades culturais. Assim, toda a informação obtida no âmbito da monitorização do meio marinho proporciona um conhecimento mais profundo da interação do meio marinho com as atividades humanas e contribui para o desenvolvimento sustentável das zonas marinhas e a utilização sustentável dos seus recursos. Tendo em consideração o objetivo 14 “Proteger a Vida Marinha” da Agenda 20-30 das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável, o mapeamento e observação das variáveis físicas, químicas e biológicas, bem como a recolha de dados de poluição, são fundamentais para gerir os ecossistemas marinhos e costeiros.

O Instituto Hidrográfico (IH) no âmbito das suas atividades e enquadrado no tema Observação do Oceano, conta, na sua história, com a realização de diversos programas de monitorização ambiental, onde se inclui, mais recentemente, o programa MONIAQUA, focado nas águas de transição e costeiras, e que se destina a monitorizar diversos parâmetros físico-químicos dessas águas, nomeadamente, parâmetros clássicos como pH, temperatura, oxigénio dissolvido, matéria particulada em suspensão e nutrientes, mas também parâmetros que mesmo em baixas concentrações são considerados poluentes como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs), policlorobifenilos (PCBs), pesticidas e metais pesados. É de referir ainda a monitorização dos microplásticos, poluentes preocupantes no ambiente aquático, em particular no ambiente marinho, uma vez que são bioacumuladores e biomagnificados ao longo da cadeia trófica, sendo passíveis de fenómenos de sorção de várias substâncias como os metais pesados, e de transporte de poluentes prioritários, tais como os PAHs e PCBs, para o ambiente aquático.

A qualidade dos resultados analíticos obtidos é fundamental, pelo que em 2010 o IH avançou para a acreditação dos métodos de ensaio, estando desde 2017 com mais de 50 métodos de ensaios acreditados, o que significa uma garantia da qualidade dos resultados das suas análises. Ainda no âmbito da qualidade dos resultados é de referir que o IH é desde 2019, Instituto Designado na área da química e para os parâmetros sílica em água do mar e mercúrio em sedimentos, ou seja, é laboratório de referência a nível nacional no âmbito do BIPM (Bureau International des Poids et Mesures) para os parâmetros referidos.

Em termos do contributo para a monitorização do meio marinho das águas costeiras e de transição é de referir que durante cerca de 30 anos o IH efetuou colheitas periódicas de águas, sedimentos e organismos concentradores de contaminantes em quatro áreas de águas de transição da costa portuguesa expostas a ação antropogénica e que contribuem para a poluição marinha. Este trabalho permitiu estabelecer padrões de qualidade dos sistemas ambientais no tempo e no espaço, estabelecer situações de referência para comparação futura e para planeamento ambiental de longo prazo, avaliar eventuais descargas de poluentes devido a acidentes, avaliar a eficiência dos sistemas de controlo de descargas de efluentes e avaliar tempos de residência de poluentes nos sistemas água, sedimento e seres vivos. Os dados recolhidos e analisados foram utilizados no relatório do estado da qualidade de 2000 da OSPAR e constituem um dos maiores repositórios nacionais de parâmetros químicos do ambiente marinho em termos temporais.

Um exemplo da análise de dados é apresentado na Figura 1 para o parâmetro NOx (Nitrato + nitrito) em quatro sistemas estuarinos da costa portuguesa. Os resultados obtidos são apresentados em termos de valores médios para o período em análise (25 anos). Pode-se desde logo verificar que, de um modo geral, existe um gradiente de concentrações que diminui de montante para jusante nos diversos estuários representados. Pode-se também referir que, com a exceção da Ria Formosa, áreas mais confinadas apresentam valores mais elevados de NOx. Tal comportamento deve-se à conjunção de dois fatores: o primeiro deles, natural, que é a hidromorfologia das referidas zonas; o segundo, causado por ação antropogénica, de origem mais industrial nuns casos (p.e., estação a norte na ria de Aveiro) e de origem principalmente agrícola (p.e., estação a este no estuário do rio Sado).

Figura 1 – Concentração de NOx na Ria de Aveiro, estuários dos rios Tejo e Sado e Ria Formosa, representada em termos de valores médios para o período 1985-2010.

No âmbito de águas costeiras, os programas de monitorização que envolvam parâmetros relacionados com a avaliação da qualidade ambiental têm sido realizados de forma mais esporádica devido ao elevado número de recursos, humanos e materiais, que tais programas comportam. No entanto, trabalhos recentes (por exemplo, no âmbito do Projeto AQUIMAR, coordenado pelo IH), têm permitido ampliar o conhecimento nesta área. Na Figura 2 pode-se verificar a distribuição espacial dos nutrientes NOx e PO4 (fosfato) observados em outubro de 2018 a diversas profundidades. Neste caso, nota-se um aumento marcado na concentração destes nutrientes à medida que a profundidade aumenta. Este é o comportamento típico observado e que está relacionado com o consumo – natural – de nutrientes nas camadas superiores, nutrientes estes que vão sendo repostos por massas de água provenientes de maiores profundidades e, em determinadas condições, a partir de massas de água provenientes do oceano aberto e que se deslocam para a costa.

Figura 2 – Distribuição espacial de NOx e PO4 em diversas áreas da Plataforma Continental Portuguesa.
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