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Sobreelevação do nível do mar de índole meteorológica (Pt) (I. storm surge)

Elevação do nível marinho acima do que é imposto pela maré causado por baixas pressões atmosféricas.

Na realidade, há vários processos que podem fazer com que o nível da água seja superior ao que deveria ser se o único processo interveniente fosse o da maré astronómica. Como o nível marinho é uma superfície livre de equilíbrio, responde ás variações da pressão atmosférica como se fosse um barómetro de mercúrio: sobe quando há baixas pressões e desce quando a região é atingida por altas pressões.  Teoricamente, uma descida de um milibar (um hectopascal) na pressão atmosférica provoca uma subida de 10 mm no nível marinho. Como é evidente, as altas pressões atmosféricas têm como consequência uma descida do nível do mar, razão porque, por vezes, se fala, também, em sobreelevação negativa.

Normalmente, associados a baixas pressões verificam-se ventos fortes. A força tangencial destes ventos sobre a superfície marinha provoca um transporte de massa, do que resulta, com frequência, um excesso de água junto à costa (empilhamento) e, consequentemente, sobreelevação do nível marinho.

É essencialmente à resultante da actuação destes dois processos que se atribui a designação de sobreelevação do nível do mar de índole meteorológica, também designada, embora de forma imprópria (pois que o fenómeno é completamente distinto do da maré), por maré meteorológica, maré de tempestade, maré eólica.

Por vezes faz-se a distinção entre sobreelevação estática (que é directamente provocada pela pressão atmosférica) e sobreelevação dinâmica (que é devida ao empilhamento de água junto à costa devido ao vento).

Neste contexto há que considerar que, normalmente, existe temporal no mar, com ondas muito energéticas atingindo a costa. Embora a actuação destas e as características da sua rebentação estejam condicionadas pela batimetria próxima, o normal é que o seu potencial de inundação seja bastante elevado, por um lado porque as ondas se deslocam numa superfície marinha sobreelevada, e por outro porque o espraio e run-up dessas ondas é grande. Porém, em rigor, este é um fenómeno distinto do da sobreelevação do nível do mar de índole meteorológica, embora, com frequência, não seja fácil distinguir as consequências de um e de outro destes fenómenos. Grande parte dos autores considera que um dos maiores valores históricos de sobreelevação do nível do mar, estimado em 13 metros, foi o que ocorreu em 1899, na baía de Bathurst, na Austrália, durante o ciclone Mahina (914hPa). Todavia, a análise recente deste episódio(1) sugere que a maior parte das inundações registadas se ficou a dever ao run-up das ondas após rebentação.

A designação anglo-saxónica storm surge reflecte o facto das condições aludidas (baixas pressões atmosféricas) estarem normalmente (mas não obrigatoriamente) associadas a situações de temporal (storm). Efectivamente, podem estabelecer-se, ainda que raramente, pressões atmosféricas relativamente baixas, com sobreelevação do nível do mar, sem que se atinja situação de temporal.

A sobreelevação do nível do mar com resultados mais catastróficos foi o que ocorreu no Bangladesh, no dia 12 de Novembro de 1970, provocada pelo ciclone Bhola (pressão central: 966hPa; vento com rajadas de 185km/h), que inundou as ilhas e margens do delta do Gandes, provocando cerca de meio milhão de mortos.

O único método fiável de quantificar a sobreelevação do nível do mar de índole meteorológica recorre à análise de registos maregráficos, estabelecendo-se as diferenças entre o nível da maré teórica (prevista) e o que efectivamente foi atingido.

Em Portugal a sobreelevação do nível do mar de índole meteorológica pode atingir mais de um metro, como a que ocorreu no final de Dezembro de 1981, que provocou sobreelevação de 1,17 metros em Aveiro(2).

Previsão da maré e maregrama obtido no marégrafo de Viana do Castelo em Dezembro de 1978. Na parte superior está representada a sobreelevação do nível do mar que então se verificou.

Os danos que podem ser causados pelas sobreelevações do nível do mar dependem muito da fase da maré em que o fenómeno ocorre. É evidente que uma sobreelevação que ocorra em maré vazia tem perigosidade bastante menor do que outra que se verifique durante a maré cheia. A pior situação acontece quando existe coincidência entre uma grande sobreelevação, maré cheia equinocial e um grande temporal. [JAD]


(1) Nott, J. & Hayne, M. (2000) - How high was the storm surge from Tropical Cyclone Mahina? North Queensland, 1899 (PDF). Emergency Management Australia. http://www.ema.gov.au/agd/EMA/rwpattach.nsf/viewasattachmentpersonal/(C86520
E41F5EA5C8AAB6E66B851038D8)~How_high_was_the_storm_surge_from_Tropical_
Cyclone_Mahina.pdf/$file/How_high_was_the_storm_surge_from_Tropical_Cyclone_Mahina.pdf
(acedido em 27 Set 2008).


(2) Taborda, R. & Dias, J. A. (1992) - Análise da Sobreelevação do Mar de Origem Meteorológica durante os Temporais de Fevereiro/Março de 1978 e Dezembro de 1981. Geonovas, Nº Especial 1 "A Geologia e o Ambiente", p.89-97, Lisboa.