A reabilitação do regadio de Xai-Xai

Título:

A reabilitação do regadio de Xai-Xai

Resumo:

A reabilitação do Regadio de Xai-Xai, situado no sul de Moçambique, na planície aluvionar do Rio Limpopo, junto à cidade de Xai-Xai, faz parte de um projecto que tem em vista o aumento da capacidade produtiva de pequenos agricultores e o alívio da pobreza das populações através da reabilitação e/ou criação de infra-estruturas para a rega e drenagem e introdução de técnicas culturais melhoradas. A área de projecto é dominada pela agricultura familiar, feita por pequenos produtores (poderão ser 8 800 beneficiados) que vivem no limiar da pobreza. Esta obra de rega ocupa uma área de cerca de 3000 ha e foi construída em 1984 para beneficiar algumas cooperativas agrícolas. Consistia em três estações de bombagem e respectivos sistemas de adução em canais a céu aberto para uma distribuição de água por gravidade. As EBs tinham a dupla função de captação de água para rega e de remoção de água de drenagem do perímetro, das valas situadas a cotas abaixo dos níveis do rio em periodo de maré alta. A planície aluvionar do Rio Limpopo é formada essencialmente por sedimentos aluvionares e na área de estudo ocorrem solos aluvionares hidromórficos e solos aluvionares não hidromórficos. A faixa pantanosa que se estende entre a planície aluvionar (Vale), e as encostas do planalto arenoso circundante (Serra), caracteriza-se pela ocorrência de solos hidromórficos orgânicos, turfoso (“Machongos”), gerados pela presença constante de toalha freática elevada originada pelo escoamento das encostas arenosas. Esta zona (Zona 1), tem cerca de 4.700 ha de elevada fertilidade. Os solos argilosos, imperfeitamente a mal drenados, são a unidade dominante no Vale (Zona 2), com cerca de 7200 ha. Uma parte considerável dos solos são salgados à profundidade da zona radicular, estando esta salinidade associada às camadas salgadas do subsolo. Contudo, os solos orgânicos hidromórficos não apresentam quaisquer limitações em termos de salinidade, quer ao nível da camada superficial, quer nas camadas mais profundas. Nas áreas próximas da zona central do vale os solos aluvionares apresentam maiores problemas de salinização/sodização, e exigem cuidados especiais na sua exploração em regadio por forma a evitar os processos de salinização. Face aos resultados dos estudos efectuados foram propostos dois tipos de intervenções (Zona 1 e Zona 2), a realizar em duas fases distintas. As duas zonas distinguem-se pelas características pedológicas dos terrenos e na sua forma de exploração em regadio, o que condiciona o ordenamento cultural e as necessidades de rega das culturas (Zona 1: “Machongos”, Zona 2: “Bila”). A Fase 1 contempla o aproveitamento na íntegra da mancha de solos (Histossolos), designados por Machongos (Zona 1). No esquema hidráulico seleccionado para a beneficiação desta Zona prevê-se a reabilitação de 4441 ha de terrenos recorrendo ao sistema comum de drenagem e rega por humedecimento (Sub-irrigação), que utiliza estruturas reguladoras do nível de água na secção final das valas secundárias que os atravessam. Para tal far-se-á o redimensionamento e reabilitação do sistema de drenagem já existente. Esta primeira Fase é considerada como prioritária em termos de aproveitamento e desenvolvimento agrícola, não só devido ao seu potencial imediato, como dos beneficios que advêem dos baixos custos envolvidos quer no investimento inicial quer na gestão do sistema de drenagem/rega, assumindo que a fonte de água depende apenas da manutenção da profundidade do lençol freático, alimentado pelas escorrências das Encostas, a cotas que interessam às culturas praticadas. Outra das vantagens que se oferecem nesta Fase, que beneficiará um total de 4977 ha (incluindo o Bloco Ponela, com 536 ha) é o acesso fácil a esta Zona por parte dos agricultores familiares (proximidade fisica e melhor adaptação ao tipo de exploração). A Fase 2 diz respeito à beneficiação da Zona 2, onde foram delimitados 3 blocos de rega com uma área total de 3781 ha, tendo sido seleccionado para elaboração do projecto de execução, um bloco de rega tipo com 536 ha (Ponela), localizado na zona onde actualmente existe uma maior pratica de regadio, assumindo que será a área de rega piloto ou experimental que servirá de base de desenvolvimento e gestão a adoptar para esta Zona. Este Bloco de Ponela foi incluido na Fase 1, pelo que a Fase 2 se limitará a servir 3245 ha situados na planície de inundação do rio Limpopo, ocupada por solos aluvionares aluvionares não hidromórficos (Fluvissolos), estratificados ou argilosos. Todos os blocos da Zona 2 serão abastecidos com água bombada no Rio Limpopo, podendo o bloco de Ponela ser abastecido com água sobrante dos escoamentos das encostas, não utilizada pela Zona 1, e aduzida pelo colector de drenagem. O traçado da rede de drenagem/sub-irrigação acompanha de perto o sistema de valas actualmente existente. Trata-se de um sistema com eixos centrais constituídos por colectores de grandes dimensões, nos quais entroncam várias valas secundárias com espaçamentos regulares; estas valas recolhem água drenada por pequenas valetas (terciárias) que drenam/regam talhões de dimensões padronizadas, conforme ilustra o desenho anexo. Na extremidade de jusante do sistema, na confluência deste com o rio Limpopo, foi identificada a necessidade de construir uma estação elevatória que permita elevar os caudais de drenagem acima dos níveis de água impostos pela acção das marés nesta secção do rio. Este sistema funcionará para drenar excedentes de água durante a época húmida e para garantir que os terrenos beneficiados por este regadio possuam o nível freático localizado à profundidade adequada para garantir as condições de humedecimento dos solos necessárias ao bom desenvolvimento das culturas; para tal devem ser controlados os níveis de água nas valas secundárias e terciárias, tendo os colectores principais unicamente funções de escoamento de excessos de água, em ambas as épocas. O controle dos níveis de água nas valas será efectuado através da operação de pequenos descarregadores frontais de soleira móvel a colocar na extremidade de jusante das valas secundárias, na confluência com o colector principal. Os traçados das valas e colectores projectados acompanham de uma forma geral o traçado das actuais valas. A rede projectada é constituída por 30 valas e colectores com uma extensão total de cerca de 97,1 km. A largura de rasto varia entre 2,5 m e 12,0 m, enquanto que a largura de boca varia entre 5,85 m e 23,16 m. O caudal de dimensionamento da estação elevatória de Umbape será de 5,9 m3/s. A rede de rega do bloco de Ponela tem origem num reservatório de regularização abastecido por um sistema de bombagem instalado na EE Umbape e é constituida por uma rede em baixa pressao que terá uma extensão total de 13,1 km. A rede de caminhos rurais projectados fornecerá meios de acesso permanente aos 12 blocos definidos na área de rega e drenagem, e de modo a permitir também uma flexibilidade maior na exploração das redes de adução e de distribuição, e é constituída por 15 caminhos, com uma extensão total de aproximadamente 126 km, com uma densidade de 10,7 m por hectare beneficiado. A EE do Umbape foi concebida para as funções de drenagem e de rega, e será equipada com 4 grupos electrobomba destinados à drenagem, (1,97 m3/s elevados a 6,0 m, cada ), e 4 grupos electrobomba destinados `a rega do Bloco de Ponela (0,32 m3/s e altura de elevação de 10,7 m). Nas situações em que o nível de água a montante é muito alto, os quatro grupos de drenagem podem funcionar simultaneamente, e bombar para o rio um caudal total de 7,9 m3/s. Em situações de urgência, quando os níveis de água são muito elevados, os três grupos de electrobombas destinados à rega podem ser usados para reforçar a capacidade de drenagem da estação elevatória, descarregando directamente o caudal para o rio Limpopo. Está prevista a constituição de uma entidade gestora do empreendimento como uma das metas do projecto. Esta entidade será responsável pela operação e manutenção dos elementos comuns e primários do esquema de regadio e pela aplicação de uma politica financeira que garanta a sustentabilidade de todo o sistema a longo prazo. Assume-se que a operação e manutenção dos elementos secundários e terciários do sistema sejam da responsabilidade dos agricultores organizados em Associações de Regantes ao nível do Bloco.

Autores:

Nuno T. Colaço, Inácio Pereira

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