A utilização de águas subterrâneas como complemento ao abasteciemento de Luanda e arredores (Angola)

Título:

A utilização de águas subterrâneas como complemento ao abasteciemento de Luanda e arredores (Angola)

Resumo:

Luanda não tinha grandes tradições no uso de águas subterrâneas, apesar das primeiras captações terem sido construídas entre os anos de 1641 e 1648, com destaque para os poços da Maianga do Rei e Mainga do Povo. Alguns autores consideravam a inexistência de poços de água doce e saudável como sendo um dos principais problemas na manutenção da salubridade a Luanda, LOBO CARDOSO (1950). No ano de 1889 é inaugurado o primeiro sistema de captação de águas superficiais, a partir do rio Bengo (Quifangondo) (sistema “zero”) e nos anos 1953 e 1971 os sistemas “um” e a primeira fase do sistema “dois”, para o abastecimento de Luanda e Arredores, EPAL-EP (2003). A instabilidade política gerada em todo o país a partir dos anos de 1975 obriga a uma nova cultura nas tradicionais formas de captação de águas em alguns polos da cidade de Luanda e seus Arredores. A utilização das águas subterrâneas surge complementando o abastecimento em alguns bairros da cidade de Luanda e seus Arredores. De densidades de distribuição das captações de 1/14 km2 em 2002, MIGUEL et al. (2003b), á valores de 1/8 km2 em 2004, proporcionando contributos na ordem de 2 hm3/ano de águas proveniente das extrações subterrâneas. Para os aproximadamente cinco mil habitantes que compõe o agregado de Benfica Control da Policia, Camama, Serra e Vitrona (zona não urbanizada), consegiu-se importante complemento ao abastecimento de águas, graças as captações subterrâneas, chegando a uma dotação média próxima de 70l/hab/dia. O potencial hídrico subterrâneo, naqual se realizam as extrações, apresenta características de um meio poroso e faz parte do sistema aquífero denominado Quelo-Luanda. Desde o ponto de vista hidrogeológico, o sistema aquífero Quelo-Luanda, de idade compreendida entre o Pliocénico inferior e o Holocénico, é constituído por materiais detríticos com permeabilidades de 1-3 m/d (em particular nos sectores basais do mesmo); valores que contrastam com a notável reduzida permeabilidade da Formação Quifangondo (Burdigaliano) sobre a qual repousa MIGUEL (2002), MIGUEL et al. (2003b). A litoestratigrafia dos materiais que constituem o sistema aquífero Quelo–Luanda está composta por argilas cinzentas e verdosas, com lentes milimétricas e discontinuas de areias amareladas muito finas; alternância de limos e areias finas de côr branca e amarelada, as veces ferruginosa con pouca argila; areias finas, medias, grosseiras e heterométricas; alternância de conglomerados e areias principalmente quarzosa, moderada e pobremente selecionada com uma percentagem muito baixa de matriz argilosa, formada por caolinite, illite e abundantes oxidos de ferro. O conjunto deste sistema poderia funcionar como um sistema “multicamada”. Os valores médios da profundidade dos níveis piezométricos são de 55 metros e a espessura do sistema aquífero (Quelo-Luanda) de centenas de metros. As observações de campo realizadas até ao momento no borde oeste do sistema apontam para ausência de descarga natural do mesmo aos rios e riachos da zona estudada, embora que em alguns tramos parece existir alimentação directa do Rio Kwanza para o referido sistema. Em geral, na bacia sedimentar na qual enquadra-se o referido sistema aquífero, a tectónica salífera goza de uma importância capital, destacando-se o início das formações salíferas desde o Apciano e finalizando no Quaternário. Antes da entrada em funcionamento (Novembro de 2002) da segunda fase do sistema “três” de abastecimento de águas, provenientes do rio Kwanza, os extremos sul e sudeste da província de Luanda utlilizavam em média para a cobertura das suas nececessidades básicas 80% de águas de origem subterrânea. Para o extremo mais a sul de Luanda, zona do Quenguela Norte, a agricultura aumentou suas dotações para rega em mas de 60% de água de origem subterrânea. Diferenciam-se, entre os múltiples usos das águas subterrâneas em Luanda e Arredores, os cerca de 60% para o uso doméstico e 40% para a agricultura e construção civil. A amostragem realizada em Luanda e Arredores, extendeu-se num raio de acção de cerca de 45 km e inclui alguns parámetros físicos, químicos e biológicos. Entre os valores máximos e mínimos de temperatura medidos durante as estações seca e chuvosa do ano hidrológico 2003-2004, observam-se para as águas subterrâneas variações na ordem dos 4,8ºC. O valor médio obtido nas águas amostradas é de 29,6ºC, embora que os valores de temperatura média anual da zona de estudo, calculado com uma série de 39 anos, seje de 26,7 ºC. Em conformidade ao anteriormente exposto, estas águas classificam-se como normais, muito próximas a hipertermais ou termais, conforme ao proposta por Schoeller (1962). Quanto ao pH da água subterrânea, considera-se alcalino, com valores médios na ordem de 9. Para a conductividade eléctrica, compararam-se as amostras realizadas nas estações seca e chuvosa, e se individualizaram alguns valores relacionados com poços situados na zona litoral. Para o ano hidrológico 2003-2004, as médias gerais óbtidas situam-se em torno dos 2900 μS/cm para a estação seca, e de 2700 μS/cm para a chuvosa. Em geral o valor médio de conductividade dos poços analizados, excluindo os situados mais próximos do litoral, é de cerca de 1400 μS/cm, enquanto que para a zona litoral -e especificamente o Bairro de Rocha Pinto-, são em ordem de 3 vezes superiores aos anteriormente mencionados. Os valores médios obtidos para os sólidos totais dissolvidos é de cerca de 1.300 mg/l, e segundo a classificação do USGS, denominam-se águas francamente salinizadas, embora que a metade das mesmas são águas doces, disponíveis para o abastecimento público. Também podemos afirmar que a maior parte das águas das captações analisadas são apropiadas para a rega. Os valores de nitratos são baixos. Das captações analisadas, o valor mínimo corresponde a 0,4 mg/l de NO3-, enquanto que o máximo é de 170 mg/l, para um poço situado no centro da zona urbanizada de Luanda. Genéricamente os valores dos poços análisados não supera os 5 mg/l de NO3-. No que se refere aos iões majoritários, a água de sete dos doze poços analizados possui uma sequência catiónica de tipo Sódica – Cálcica – Magnesiana, enquanto que para os aniões quatro das captações situam-se em Cloretada – Sulfatada – Bicarbonatada. O valor do coeficiente salino (K) de Scott possui um mínimo de 2,81 e máximo de 29,2. Segundo este índice, as águas analizadas enquadram-se em média entre toleravéis a medíocres, embora que a nível individual a água do Quenguela se designa segundo esta classificação como boa para a rega. Quanto aos coliformes totais e fecais, os valores positivos registrados estão em grande medida relacionados com o deficitário saneamento básico de Luanda e com a ausência de perímetros de protecção, esencialmente a de zona intermédia ou de restrições máxima, como é o caso do Benfica-Sonef, com 1UFC/100ml para os coliformes fecais e 4UFC/100ml para os coliformes totais.

Autores:

Gabriel L. Miguel, Luis F. Rebollo, Miguel Martín-Loeches

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