Análise de integração linear como proposta metodológica para a orientação de políticas públicas de r

Título:

Análise de integração linear como proposta metodológica para a orientação de políticas públicas de r

Resumo:

INTRODUÇÃO
Um dos grandes problemas atuais da pesquisa ecológica é a dificuldade do retorno social dos resultados, pois o fato de a ecologia ser uma disciplina essencialmente holística em muitos casos não é suficiente para se fazer compreensível fora do âmbito acadêmico. Isto se deve muito provavelmente à dificuldade que o pesquisador tem de estabelecer uma ligação entre o seu estudo de laboratório e os anseios daqueles que financiam a sua pesquisa, que em última instância é a sociedade. Este estudo buscou atender a dois propósitos principais: elaborar um documento que discuta os aspectos ecológicos de rios e pautar sob à luz da ciência a problemática ambiental do rio Uberaba. Desta forma, procurou-se sintetizar as informações e discussões apresentadas remetendo a análise para a geração de ferramentas de gestão e políticas ambientais, com ênfase nos recursos hídricos (rio Uberaba-MG). Trata-se de um documento de caráter técnico, cujas recomendações buscam estar compatíveis com um termo médio, entre as sustentabilidades ambiental e social, mas sem extrapolar os processos políticos necessários para sua implementação.

MATERIAL E MÉTODOS
A análise baseia-se na síntese das informações com representação gráfica das principais tendências e recomendações. Propõe-se uma análise de integração linear de variáveis, utilizando-se de uma adaptação do TQS (tríade da qualidade do sedimentos), como descrita em Zamboni & Abessa (2002) que, originalmente, integra dados ecotoxicológicos, níveis de contaminação e descritores da comunidade de macroinvertebrados bentônicos. Desta forma os NI de cada variável utilizada na análise (IQA, protocolo e BMWP) foram plotados em um gráfico de três eixos separados entre si por um ângulo de 120°. A interpretação é dada através da comparação entre o triângulo formado pela estação de referência e o triângulo formado pela estação em questão. Ressalta-se que quanto mais variáveis compuserem o NI melhor se torna a precisão do método. Selecionou-se o IQA, o protocolo de habitats e o BMWP por estes já integrarem diversas variáveis mensuradas no campo e estarem ponderadas de acordo com seu grau de importância ambiental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através da integração de variáveis é possível visualizar, de modo simplificado, a relação entre as três variáveis apresentadas anteriormente. Quanto mais o triângulo escuro (estação em análise) for semelhante ao triângulo claro (área de referência), melhores serão as condições ambientais da estação. Além disto, a assimetria dos eixos mostra qual variável está mais distante das condições ótimas e, desta forma, aponta qual (ais) variável (is) tem prioridade de ação. Observa-se que com relação à semelhança com a estação de referência (estação C) as estações B, D, E e I apresentaram maior semelhança. Desta forma, salvo as particularidades de cada caso, as estações A, F, G, H e J devem receber uma atenção prioritária em relação ao contexto global de qualidade. Nas estações B, D, E e I, apesar da maior semelhança com a estação de referência, as ações prioritárias, em geral, devem enfatizar a conservação do habitat e da qualidade e conseqüentemente das comunidades aquáticas. As ações prioritárias nas estações A, F e J devem priorizar a conservação das comunidades aquáticas (comunidade bentônica) e dos habitats aquáticos. Nas estações G e H as ações devem priorizar a qualidade da água, tendo como referência a conservação das comunidades aquáticas. Desta forma, considerando a beleza cênica e a importância biológica, três áreas devem receber atenção especial em uma eventual criação de parque ou reserva no rio Uberaba: a área de nascente (Estação A), por ser uma área alagável responsável pela recarga do lençol freático da bacia; a área da cachoeira (acima da estação C) pelo alto potencial turístico e elevado grau de conservação e a região de várzea, próximo ao rio Grande, pela importância para a diversidade biológica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cenário ambiental do rio Uberaba permite a adoção de medidas mitigatórias e preventivas no sentido de minimizar os efeitos deletérios das ações antrópicas sobre o rio. Três zonas com impactos preponderantes diferentes devem ser avaliadas como maior cautela: a) antes do município de Uberaba existe a predominância de atividades agrícolas que promovem impactos pela entrada contínua de sedimentos e oferecem riscos pela entrada de agrotóxicos e fertilizantes, b) Abaixo do município de Uberaba, a entrada de efluentes gera acentuada degradação da qualidade da água e conseqüente perecimento das comunidades biológicas, até a região próxima ao município de Veríssimo, e c) a região compreendida entre os municípios de Veríssimo, Conceição das Alagoas e Planura, pelo crescente risco de degradação da qualidade da água decorrente da entrada de efluentes e do aumento do desmatamento nas margens do rio Uberaba e afluentes. Constata-se que esta abordagem metodológica é satisfatória como interface de comunicação entre cientistas e não-cientistas, possibilitando o desenvolvimento de mecanismos de suporte à decisão de projetos de renaturalização fluvial.

Autores:

Domingos Sávio Barbosa, Evaldo L. G. Espíndola

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