Análise de tendência da precipitação em Portugal Continental

Título:

Análise de tendência da precipitação em Portugal Continental

Resumo:

Devido à sua importância, as variações climáticas têm sido alvo de investigação nas últimas décadas, nomeadamente ao nível da quantidade e distribuição da precipitação, temperatura do ar e temperatura da água do mar. Os resultados destes estudos interessam a variadíssimas áreas de investigação e revestem-se de especial interesse pelas potenciais implicações no meio ambiente, nos ecossistemas, na gestão dos recursos, nas actividades económicas e, portanto, no nosso dia-a-dia. Apesar do uso de modelos complexos que pretendem descrever e prever cenários de alterações climáticas, a análise de séries temporais de dados empíricos relevantes fornece informação essencial para uma melhor compreensão e caracterização dos processos envolvidos. No entanto, principalmente a grande variabilidade espacial e temporal de alguns desses processos, a escassez de dados com resolução adequada e a limitada duração das séries de observações dificultam a tarefa de caracterizar os elementos climáticos. O papel desempenhado pela precipitação neste sistema faz com que a caracterização deste processo assuma uma importância fundamental. A presença de tendência em séries de precipitação resulta essencialmente da variabilidade natural presente nos processos hidrológicos ou está directamente relacionada com a existência de alterações climáticas. Neste contexto, este trabalho debruça-se sobre o estudo da precipitação em Portugal Continental, com base em dados mensais e anuais recolhidos em 9 localizações espacialmente dispersas sobre Portugal Continental As observações udométricas utilizadas neste estudo estiveram a cargo do Instituto de Meteorologia (IM) e do Instituto da Água (INAG). Os dados analisados têm uma distribuição geográfica que torna as séries representativas dos diferentes regimes de precipitação que afectam o território português. As séries escolhidas abrangem todo o século XX, tendo sido analisado o período de 1900 a 2000. A precipitação em Portugal Continental apresenta características sazonais muito fortes, quer na quantidade total de precipitação como na sua natureza (frontal ou convectiva) e consequentemente na sua extensão temporal e espacial. As séries de precipitação são analisadas por métodos estatísticos com o objectivo de testar se existe em Portugal Continental uma alteração, ao longo do último século, da grandeza climática em estudo. É feita a análise de tendência da precipitação anual e da precipitação mensal, o que permite caracterizar, neste último caso, as alterações da distribuição da precipitação durante o ano, no território nacional. As séries de precipitação anual e mensal são analisadas utilizando os ensaios de correlação e tendência, testes não-paramétricos de Wald-Wolfowitz e de Mann-Kendall, respectivamente, para um nível de significância de 5%. Estes testes são recomendados pela Organização Meteorológica Mundial. Para estimar o valor da tendência da precipitação é aplicado o método não-paramétrico de Sen. Devido às características sazonais da precipitação os dozes meses do ano são analisados separadamente. No período de 1900 a 2000, para as 9 séries temporais de precipitação localizadas em Portugal Continental e analisadas neste estudo, não foi observada tendência da precipitação anual com significância estatística, pelo menos para um nível de confiança de 90% (Figura 1). Relativamente à distribuição sazonal da precipitação os resultados mais significativos correspondem à tendência decrescente da precipitação no mês de Março observada de uma forma generalizada em todas as regiões do País (Figura 1); é também de salientar, embora não tendo a mesma expressão, uma tendência decrescente da precipitação no mês de Novembro. A tendência decrescente da precipitação nestes meses parece ser de alguma forma compensada como a tendência crescente observada nalguns outros meses do ano (nomeadamente Dezembro/Janeiro e Abril/Maio), embora sem significância estatística. As alterações observadas na distribuição das quantidades de precipitação ao longo do ano poderão ter implicações importantes na gestão dos recursos.

Autores:

M. Isabel P. de Lima, Ana C. Marques, João L. M. P. de Lima, M. Fátima E. S. Coelho

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