Título:
Avaliação da vulnerabilidade do sistema aquífero dos Gabros de Beja e análise crítica das redes de m
Resumo:
A situação de poluição persistente por nitratos de origem agrícola do Sistema Aquífero dos Gabros de Beja (350 km2) foi recentemente reconhecida na Portaria nº 1100/2004 de 3 de Setembro, relativa às Zonas Vulneráveis (Zona Vulnerável nº 6). Pela sua extensão, importância para abastecimento público e inclusão no Plano de Rega do Alentejo no âmbito do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva merecem especial atenção os aspectos relacionados com o mapeamento espacial da vulnerabilidade (intrínseca) e do risco de poluição associado às novas técnicas agrícolas. Na abordagem da vulnerabilidade aquífera recorreu-se índices empíricos e semi-empíricos consagrados na bibliografia (DRASTIC, GOD, AVI), critérios litológicos (EPPNA) e índices específicos (Índice de Susceptibilidade). Os resultados obtidos indicam que o SA dos Gabros de Beja, classifica-se, como área de vulnerabilidade baixa a extremamente alta à poluição agrícola. Apresentam-se os respectivos mapas na comunicação e os resultados obtidos para análise comparativa (Quadro 1). Quadro 1- Análise comparativa da Vulnerabilidade do SA dos Gabros de Beja Avaliação da Tipo deClasseVulnerabilidade Aquífera ÍndicedominanteAller et al. , 1987numérico100-119baixa Aller et al. , 1987numérico120-139baixa a média Ribeiro , 2000numérico65% – 75%média-alta Van Stempvoort et al., 1993numérico1 a 2,7 moderada a extremamente altaFoster, 1987numérico0,2 a 0,4baixa a moderadaEPPNA, 1998qualitativoV6Risco baixo a variávelReferênciaClassificação da VulnerabilidadeÍndice DRASTIC Índice DRASTIC PESTICIDE Índice de Susceptibilidade Índice AVI Índice GOD Critérios Litológicos A validação dos métodos empíricos com os registos da monitorização revela que apesar de algumas metodologias apontarem para baixa vulnerabilidade, as práticas agrícolas acumuladas durante o século XX foram responsáveis pela contaminação generalizada do Sistema Aquífero dos Gabros de Beja por nitratos de origem agrícola. Estudos posteriores e mais rigorosos deverão indicar qual a metodologia de avaliação da vulnerabilidade que melhor se ajusta às condições hidrogeológicas e agro-climáticas dos Gabros de Beja, no sentido de obter mapas de risco à poluição credíveis que sirvam como ferramenta de planeamento e apoio à decisão dos gestores da Zona Vulnerável. No âmbito da Directiva Quadro da Água e da sua congénere para as Águas Subterrâneas que se aguarda para breve, os Estados-Membros da CE e as respectivas entidades regionais responsáveis pela utilização dos recursos hídricos e pelo ordenamento do território devem assegurar a protecção, melhoria e reposição do bom estado químico das águas subterrâneas, prevenindo a sua poluição. Segundo a DQA, as massas de água em risco como é o caso dos Gabros de Beja, carecem de estudos hidrogeológicos apropriados e instalação de redes de monitorização (monitorização de vigilância e operacional) apropriadas, que sejam representativas das massas de água a monitorizar. Segundo a Directiva, “a rede de monitorização será concebida de modo a proporcionar uma panorâmica coerente e completa do estado químico das águas subterrâneas em cada bacia hidrográfica, bem como detectar a presença de tendências a longo prazo, antropogenicamente induzidas, para o aumento da concentração de poluentes”. Actualmente a CCDRAlentejo/Ambiente é responsável por uma rede de monitorização de referência da qualidade geral (parâmetros físico-químicos maiores e alguns metais) formada por 9 estações que iniciaram actividade em 2000 e por uma rede de monitorização específica da poluição difusa (i.e. nitratos) que iniciou actividade em Outubro 2002 e que abrange mais 23 origens. A frequência de amostragem da rede de referência da qualidade (rede geral) é anual para a maioria dos parâmetros e semestral para os nitratos e a frequência da rede específica dos nitratos é igualmente semestral. A maioria das estações regista valores de nitratos acima do valor paramétrico de 50 mg/L (Quadro 2) e as tendências sazonais observadas em 8 estações que possuem entre 8 e 9 registos de nitratos desde o Verão de 2000, indica uma tendência geral de descida, embora ligeira.
Quadro 2 – Indicadores estatísticos da rede de monitorização do SA dos Gabros de Beja relativamente aos nitratos
Campanhas |
Nº de |
Nitratos (mg/L) |
||||||
Mínimo |
Mediana |
Média |
Máximo |
Desvio Padrão |
||||
Jul / Ago 2000 |
9 |
53 |
67 |
75 |
110 |
20 |
||
Out / Nov 2000 |
9 |
40 |
64 |
60 |
87 |
16 |
||
Mai / Jun 2001 |
10 |
31 |
56 |
58 |
86 |
16 |
||
Maio 2002 |
9 |
38 |
52 |
54 |
78 |
13 |
||
Outubro 2002 |
36 |
13 |
52 |
71 |
206 |
47 |
||
Abril 2003 |
32 |
18 |
66 |
78 |
219 |
41 |
||
Outubro 2003 |
27 |
30 |
66 |
75 |
213 |
39 |
||
Maio 2004 |
27 |
30 |
74 |
85 |
373 |
64 |
||
Novembro 2004 |
26 |
29 |
66 |
70 |
136 |
26 |
Será necessário continuar um programa de monitorização pelo menos semestral (preferencialmente trimestral) e manter uma densidade de amostragem das águas subterrâneas especialmente direccionada para as zonas consideradas mais sensíveis na avaliação da vulnerabilidade e com elevados teores de nitratos. As medidas de protecção das águas subterrâneas devem considerar a vulnerabilidade dos sistemas aquíferos, em função das suas características hidrogeológicas e dos riscos de contaminação efectivos ou potenciais associados às actividades humanas. A avaliação das condições hidrogeológicas, da vulnerabilidade à poluição das águas subterrâneas e a análise dos impactes das actividades humanas relacionadas com as alterações de uso do solo e o incremento do regadio são essenciais para a implementação dos planos de gestão ambiental e das respectivas redes de monitorização (geral e específica). Importa referir que as redes de monitorização são dinâmicas, pelo que, os pontos a monitorizar, periodicidade e parâmetros a analisar devem ser ajustados de acordo com os resultados obtidos. De acordo com o conhecimento hidrogeológico e/ou a ocupação do solo pode revelar-se a necessidade de aumentar ou diminuir a densidade da rede de monitorização.
Autores:
Eduardo A. Paralta, Alain P. Frances, Luís F. Ribeiro