Efeitos das alterações climáticas na disponibilidade hídrica e na qualidade da água subterrânea da r

Título:

Efeitos das alterações climáticas na disponibilidade hídrica e na qualidade da água subterrânea da r

Resumo:

É reconhecido que os recursos hídricos constituem um domínio fundamental para a avaliação dos impactos das alterações climáticas nas actividades humanas. Esta relevância resulta dos impactos directos no regime de ocorrência e disponibilidade dos recursos hídricos, e também do facto de este regime condicionar, por sua vez e de forma importante, uma multiplicidade de sectores da actividade económica e social. A água é utilizada não só para satisfazer diversas actividades humanas, como, por exemplo, as domésticas, industriais, agrícolas, energéticas, piscícolas, recreativas, de navegação e de depuração de efluentes, mas também para assegurar uma boa qualidade ambiental e uma boa saúde dos ecosistemas. Os impactos das alterações climáticas sobre os recursos hídricos podem ser directos, quando resultam directamente das alterações climáticas, ou indirectos, quando resultam de modificações do sistema económico-social induzidas pelas alterações climáticas. Percebe-se pois a complexidade dos problemas em discussão que, por isso, requerem uma abordagem interdisciplinar. O presente estudo simula as variações do escoamento superficial na região Alentejo, assim como a variação da classe de vulnerabilidade do aquífero dos gabros de Beja com a alteração do uso do solo e da recarga. As simulações futuras tiveram por base modelos climáticos que simulam a resposta dos parâmetros climáticos a diferentes níveis de emissão de gases com efeito de estufa. Para a escolha destes modelos climáticos foram analisados os resultados de quatro modelos climáticos globais e dois modelos climáticos regionais. Após a análise das corridas de controlo dos diferentes modelos concluiu-se que os modelos HadCM3 e HadRM2, ambos concebidos pelo Hadley Center for Climate Prediction and Research, apresentaram melhores desempenhos na simulação das condições climáticas portuguesas e, por isso, foram seleccionados para base da estimativa dos cenários climáticos e de escoamento futuros. As células destes modelos encontram-se representadas na seguinte figura. Tomando por base os resultados que foram apresentados no presente artigo, é possível concluir que os principais impactos das alterações climáticas sobre os recursos hídricos para o Alentejo são os seguintes:

    • Os cenários estudados não apresentam uma tendência clara do escoamento anual, muito embora todos admitam uma significativa alteração da sua distribuição sazonal.
    • O resultado das simulações prevê uma tendência para a concentração do escoamento nos rios nos meses de Inverno, induzida por uma distribuição similar da precipitação. Esta tendência acentuará a assimetria sazonal da disponibilidade hídrica.
    • A esmagadora maioria dos cenários prevê uma tendência redução do escoamento na Primavera, Verão e Outono.
    • O cenário mais pessimista prevê uma redução do escoamento médio anual para 2050 entre os 25%, na bacia do Tejo, e os 50% nas bacias Sado, Mira e Guadiana. Esta tendência acentua-se em 2100, admitindo que a redução do escoamento anual médio possa atingir 70% nas bacias do Sado, Mira e Guadiana.
    • Os restantes cenários prevêem um aumento do escoamento anual médio que pode atingir, em 2100, os 20%, de acordo com o cenário HadCM3-B2a, ou os 40%, de acordo com o cenário HadRM2.
    • A concentração da precipitação nos meses de Inverno e a estimativa do aumento generalizado da frequência de chuvadas intensas deverá aumentar a magnitude e a frequência dos episódios de cheia.
    • Prevê-se que a qualidade da água se degrade devido ao aumento da temperatura e à redução do escoamento nos meses de Verão.
    • Prevê-se um rebaixamento dos níveis freáticos nos aquíferos mais superficiais, devido à redução esperada da recarga e do aumento das taxas evaporação.
    • Prevê-se uma degradação dos ecosistemas fluviais que sejam dependentes da água subterrânea.
    • Prevê-se, finalmente, uma alteração dos graus de vulnerabilidade dos aquíferos à poluição agrícola relacionada com as alterações do uso do solo e das práticas agrícolas.

Em resumo, deve-se esperar um aumento da assimetria sazonal e espacial da distribuição de água, um aumento do risco de cheias e uma diminuição da qualidade da água. Existe ainda uma probabilidade muito significativa de diminuição geral das disponibilidades hídricas. Os impactos sobre as disponibilidades hídricas geradas em Espanha, deverá ser sentido no território Português. A fim de se avaliar exaustivamente os impactos das alterações climáticas nos recursos hídricos, além de se estimar os impactos sobre as disponibilidades hídricas, é necessário estudar também a variação das necessidades hídricas futuras para as diferentes utilizações. Esta tarefa é difícil, pois depende das reacções sociais e económicas à situação modificada. No entanto, dado que 75% da totalidade das necessidades de água estão associadas ao sector da agricultura, espera-se um aumento da procura de água devido ao aumento da temperatura.

Autores:

Luís Ribeiro, Luís Veiga da Cunha, João Nascimento, Rodrigo Oliveira

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