Título:
Impacto microbiológico na qualidade da água de uma microbacia caracterizada pelo uso dos resíduos an
Resumo:
1. INTRODUÇÃO
Analisando-se a realidade do Estado de Santa Catarina, mais especificamente de sua Região Oeste, onde as produções de suínos, aves e bovinos de leite estão concentradas e intensificadas; as propriedades apresentam um tamanho média de 20 ha; o relevo é muito acidentado e; a mão-de-obra é familiar. Os resíduos têm sido aproveitados, quase que exclusivamente, como fonte de nutrientes para as culturas, o que tem causado processos de degradação dos solos e das águas superficiais e subterrâneas devido a aplicação excessiva destes resíduos como fertilizante. Destaca-se que este uso incorreto dos resíduos como fertilizantes ainda dispõe de um amparo legal, pois as legislações referentes ao licenciamento ambiental de granjas de suínos e aves preconiza a aplicação dos resíduos no solo baseado no volume gerado ou no número de cabeças por unidade de área e não pela quantidade de nutrientes. Devido ao uso intenso das fontes de água superficiais e considerando os princípios de saúde pública e segurança alimentar, o objetivo deste trabalho foi monitorar a qualidade microbiológica das águas de uma microbacia localizada na Região Oeste de Santa Catarina caracterizada pelo uso de resíduos animais como fertilizante.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O monitoramento ocorreu na microbacia hidrográfica do Lajeado Dente de Ouro, localizada no município de Concórdia, Oeste do Estado de Santa Catarina, Região Sul do Brasil. Com uma periodicidade quinzenal, oito pontos da microbacia foram monitorados durante seis meses a partir de junho de 2004. O período de coleta escolhido é justificado devido ao fato de compreender o período de preparo dos solos para semeadura do milho, principal cultura agrícola da região e maior receptora de fertilizantes na forma de dejetos de suínos e/ou camas de frango. Para a mensuração das populações de Coliformes Totais, Coliformes Fecais e Escherichia Coli foi utilizado o kit de Petrifilm, obtendo-se resultados em Unidades Formadoras de Colônias por mililitro (UFC/ml). Anterior ao início do monitoramento, realizou-se um diagnóstico sócio-econômico da microbacia a fim de levantar dados relacionados ao tamanho dos rebanhos de suínos, aves e bovinos, as culturas vegetais predominantes e ao uso dos resíduos animais como fertilizante. Este diagnóstico foi efetuado através de entrevistas com os produtores, onde estes responderam a um formulário.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram entrevistados 15 produtores. A área média das propriedades foi de 23,1 ha, sendo a maior parte desta ocupada com a cultura do milho, média de 9,5 ha por propriedade e pastagem natural, média de 3,4 ha. Outras culturas cultivadas era o feijão e o trigo, estando a produção destes voltada para o consumo próprio, e a laranja e o fumo, visando a comercialização. Em relação a atividade suinícola, dos produtores entrevistados, 66,6% a desenvolviam, sendo que para 60% destes esta era a atividade econômica principal da propriedade. O rebanho total da microbacia era de 302 matrizes, 1.271 leitões, 15 cachaços e 580 animais em crescimento e terminação. Dos entrevistados, 40% eram avicultores, totalizando um rebanho de 54.000 aves, média de 12.000 aves por produtor. Todos os produtores utilizavam como material de cama a maravalha, sendo que estes aproveitavam a cama de frango como fertilizante. A média de cabeças de vacas de leite por produtor foi de 6,5, sendo que 86,6% dos entrevistados desenvolviam esta atividade. A menor concentração de Coliformes Totais foi verificada na nascente, durante a primeira coleta, 1 UFC/ml, enquanto que a maior foi obtida no Ponto 2, durante a quinta coleta, 460 UFC/ml. Os resultados avaliados permitem estabelecer uma relação direta do manejo dos solos e de adubação com a qualidade microbiológica das águas superficiais, concluindo-se que ou os resíduos estão sendo dispostos diretamente nos rios, ou as práticas de conservação dos solos estão sendo mau conduzidas, aliado ao fato de uma excessiva disposição de resíduos como fertilizante, fazendo com que o excesso chegue as águas. O Ponto 2 apresentou a menor e maior concentração de Coliformes Fecais ao longo do monitoramento, 1 UFC/ml e 300 UFC/ml, respectivamente. Outra lei relacionada aos recursos hídricos, é a Resolução 20 do Conselho Nacional de Meio Ambiente que estipula os parâmetros de qualidade a fim de classificar os rios da federação. Considerando o que a lei determina que um rio de Classe Especial pode ser utilizado para o abastecimento sem previa desinfecção desde que os coliformes fecais estejam ausentes em qualquer amostra, os resultados obtidos com o monitoramento demostram que o Lajeado Dente de Ouro não poderia ser classificado como especial. Somente em uma amostragem observou-se ausência de E. coli no Ponto 4 na décima primeira coleta. A maior concentração ocorreu no Ponto 2, 160 UFC/ml, na quinta coleta. Esta concentração máxima demostra total relação com o ocorrido para as concentrações de coliformes, pois para estes também a máxima concentração foi observada na quinta coleta no Ponto 2.
4. CONCLUSÕES
Analisando-se os resultados levantados a partir do monitoramento, as características sócio-econômicas da microbacia e sua espacialização e as características de trato cultural do milho, pode-se concluir que o manejo do solos, via programas de adubação da cultura predominante, influenciou na qualidade microbiológica das águas superficiais da microbacia, correspondendo a elevadas concentrações de Coliformes Totais, Fecais e Escherichia Coli nestas. De acordo com a realidade verificada, deve-se implementar um plano de manejo da microbacia, focado na utilização dos resíduos animais como fertilizante, destacando que este plano não deve ter um caráter proibitivo, pois o uso destes resíduos como fonte de nutrientes apresenta vantagens como a melhoria das condições naturais dos solos e redução dos custos de produção das lavouras, devido a não aquisição de adubos químicos. Mas obrigatoriamente deve apresentar um caráter restritivo, pautando-se pelo conceito de balanço de nutrientes, onde a quantidade a ser aplicada deve considerar as características do solo, da cultura e do resíduo. Outras medidas que poderiam estar contidas neste plano seriam a recuperação das áreas de mata ciliar; a proteção da nascente da microbacia a partir de vegetação e impedimento do seu uso como bebedouro, medidas estas que poderiam ser estendidas a todas as nascentes; o estabelecimento de culturas vegetais com maior poder de extração de nutrientes; o reordenamento produtivo da microbacia, no qual as propriedades seriam alocadas de uma forma mais homogênea no espaço hidrográfico; e a paralisação do processo de concentração de animais até se ter certeza da capacidade suporte da unidade hidrográfica.
Autores:
Julio Cesar Pascale Palhares, Andrea Dedini Jacob, Paulo Belli Filho